Após a criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, foram estabelecidos diversos tratados internacionais de direitos humanos, para abordar questões específicas e proteger grupos vulneráveis. Vamos falar sobre o que são os tratados internacionais de direitos humanos e qual sua importância.

Por Clara Agostini Campista, para o Instituto Aurora

(Foto: Peda Run / Unsplash)

O fim da Segunda Guerra Mundial foi um momento de profundas mudanças na história global, levando à criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e a desenvolvimentos importantes na legislação e nos tratados de direitos humanos. Os horrores da guerra, incluindo o Holocausto e outras violações graves dos direitos humanos, destacaram a necessidade de uma nova ordem internacional que pudesse evitar conflitos futuros e proteger os direitos humanos fundamentais em escala global.

A Organização das Nações Unidas, uma organização internacional atualmente com 193 Estados-membros, foi fundada em outubro de 1945, como uma resposta direta à devastação causada pela Segunda Guerra Mundial, e teve como objetivo promover a paz, a segurança e a cooperação entre as nações. A Carta da ONU, seu documento fundador, definiu os objetivos e princípios da organização. Ela enfatizava a importância dos direitos humanos fundamentais e da dignidade e valor da pessoa humana.

Após a guerra, houve um consenso crescente entre as nações de que era necessária uma estrutura legal para proteger os direitos humanos em nível global. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi adotada pela Assembléia Geral da ONU em 1948. A DUDH é um documento que descreve os direitos humanos fundamentais, e que devem ser protegidos universalmente. Ela inclui direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, como o direito à vida, à liberdade, à segurança, à liberdade de expressão e o direito ao trabalho e à educação.

Neste artigo, iremos ver quais são os tratados internacionais de direitos humanos, dentre eles quais são os mais importantes, e qual papel o Brasil desempenha na defesa e promoção de direitos humanos.

Tópicos deste artigo:

Publicado em 30/08/2023.

Os tratados internacionais de direitos humanos

A DUDH serviu de modelo para o desenvolvimento de tratados e convenções posteriores sobre direitos humanos. Ao longo dos anos, vários tratados foram estabelecidos para abordar questões específicas de direitos humanos e proteger grupos vulneráveis. Os dois tratados, que junto com a DUDH, formam a chamada “Carta Internacional dos Direitos Humanos” são o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (ICCPR), o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (ICESCR). 

O ICCPR, adotado em 1966, concentra-se nos direitos civis e políticos, como o direito à liberdade de pensamento, religião e expressão, o direito a um julgamento justo e a proibição de tortura e tratamento cruel. O ICESCR, também adotado em 1966, concentra-se nos direitos econômicos, sociais e culturais, incluindo o direito ao trabalho, o direito a um padrão de vida adequado e o direito à educação e à saúde.

Outros tratados tratam de temas mais específicos, e alguns dos mais importantes são listados: 

  • Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (CERD), 
  • Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), 
  • Convenção sobre os Direitos da Criança (CRC) 
  • Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (CAT); entre outras.

As convenções listadas acima são adotadas por grande parte dos Estados. Elas estabelecem obrigações legais para que se respeite, proteja e cumpra os direitos reconhecidos nesses instrumentos, e são consideradas vinculantes, ou seja, geram obrigação legal aos Estados que as ratificam. 

A Convenção sobre os Direitos da Criança (CRC) é o tratado mais ratificado da ONU, com todos os países-membro tendo assinado, com exceção apenas dos Estados Unidos.

A participação do Brasil nos tratados internacionais de direitos humanos

Tradicionalmente, o Brasil é um ator ativo no cenário internacional, em relação a adotar normas internacionais e participar de debates e negociações de novas convenções internacionais. Atualmente, o Brasil é signatário de todas as mais importantes convenções internacionais de direitos humanos, com exceção de uma, que trata sobre os direitos de trabalhadores migrantes e suas famílias. 

Dentro do direito brasileiro, os tratados de direitos humanos podem ser incorporados com equivalência às emendas constitucionais, desde que respeitado o ritual de aprovação, que passa pela assinatura da Presidência da República, e da aprovação por três quintos de cada uma das casas legislativas (Câmara dos Deputados e Senado Federal). Isto significa que o tratado tem status constitucional, não permitindo a aprovação de qualquer lei inferior que seja contraditória a ele. 

E qual a importância dos tratados de direitos humanos, afinal?

Apesar de parecer um tema muito distante da realidade da maioria das pessoas, os tratados de direitos humanos, de forma prática, servem para obrigar os Estados a cumprirem regras e adequarem suas leis internas para respeitar os direitos de cada cidadão e cidadã. Além disso, cada tratado de direitos humanos da ONU possui um comitê que monitora o cumprimento de cada Estado-membro que ratificou o tratado, e esse monitoramento é feito com a contribuição de ONGs e entidades da sociedade civil, dentro de um prazo pré-estabelecido. 

No caso do Brasil, é importante destacar que a Convenção dos Direitos da Criança, por exemplo, serviu como modelo para o texto do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que modificou integralmente o tratamento dos direitos da criança e do adolescente pelo Estado brasileiro. A própria Constituição Federal de 1988 garante uma série de direitos civis, políticos, econômicos e sociais que são um reflexo da chamada “Carta Internacional dos Direitos Humanos”.

Portanto, quando levados a sério, os tratados internacionais de direitos humanos produzem efeitos práticos que melhoram a vida em sociedade, e protegem cidadãos e cidadãs contra abusos do Estado e da própria sociedade. Os tratados também inspiram organizações da sociedade civil, como ONGs e movimentos populares, a cobrarem o Estado a fazer mais pela sua população, e a denunciar violações ocorridas.

Conclusão

O desenvolvimento da legislação e dos tratados internacionais de direitos humanos tem sido um processo contínuo, com novos desafios e questões emergentes continuamente abordadas. A ONU e suas agências especializadas, como o Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (OHCHR), desempenham um papel fundamental no monitoramento da conformidade com esses tratados e na promoção dos direitos humanos em nível global.

Embora tenha havido progresso na promoção e proteção dos direitos humanos, os desafios persistem. Violações dos direitos humanos continuam ocorrendo em várias partes do mundo, e garantir a plena realização dos direitos humanos continua sendo uma luta constante. Entretanto, a criação da ONU e o desenvolvimento de leis e tratados internacionais de direitos humanos nas últimas décadas representaram um avanço significativo no reconhecimento da importância dos direitos humanos e na luta por sua proteção universal.

O engajamento da sociedade é fundamental para a garantia e promoção dos direitos humanos, pois quanto mais sabemos sobre os nossos direitos e nosso poder, mais empoderados estamos para cobrar nossos direitos e para lutar contra a desinformação.

Por isso, o Instituto Aurora atua na promoção e defesa da Educação em Direitos Humanos, como forma de contribuir para a construção de uma sociedade justa socialmente e livre de preconceitos. Conheça mais sobre os projetos em nosso portfólio.

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Algumas referências que usamos neste artigo:

Aplicabilidade dos Tratados Internacionais | Politize

Mecanismos de Direitos Humanos das Nações Unidas | Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos

Tratados internacionais | Enciclopédia Jurídica PUC-SP

View the ratification status by country or by treaty | OHCHR

Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
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Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
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A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
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Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
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Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
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Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
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    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
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