Neste artigo, falamos sobre o Dia da ONU e o que ela representa para o Brasil e o mundo, de acordo com a visão de três brasileiras que trabalharam na ONU em diferentes países.

Por Monique Munarini, para o Instituto Aurora

Foto: UN Photo/Cia Pak

A Organização das Nações Unidas, ONU, é considerada a organização internacional mais importante do mundo por possuir como membros a maioria dos países. Ela foi idealizada em um contexto pós segunda guerra mundial com o objetivo de garantir a paz e segurança no mundo, engajando os países no desenvolvimento socioeconômico e na promoção dos direitos humanos. Esses objetivos são desempenhados pelo Sistema ONU formado por departamentos, gabinetes, órgãos subsidiários e agências com atuação em todo o mundo. Para saber mais sobre cada um deles, olhe esse organograma aqui.

O tratado internacional que lhe deu origem, a Carta das Nações Unidas, foi assinado em 26 de junho de 1945, mas a entrada em vigor com o início oficial de suas atividades foi somente no dia 24 de outubro de 1945. Por esse motivo, esta data foi selecionada para celebrar o Dia das Nações Unidas.

Mas afinal, o que faz a ONU na prática? O que ela representa ao Brasil? 

Para responder essa e outras perguntas, três brasileiras que trabalharam na ONU em diversos lugares do mundo foram convidadas para colaborar com esse artigo. Ao serem questionadas sobre o papel mais importante da ONU no cenário internacional e nacional, elas responderam:

Carolina Lopes, mestranda em cooperação e desenvolvimento na América Latina pela Université Sorbonne nouvelle – Paris 3, que trabalhou em uma agência da ONU em Brasília, reforça o papel central de defesa dos direitos humanos, promoção da paz entre nações, legitimação da autodeterminação e soberania dos povos.

Nathalie Gurgel, mestre em direitos humanos pela Universidade de Padova, que trabalhou no Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, Suíça, acrescenta que por ser a única instituição intergovernamental com quase todos os países, possui um relevante papel de negociação e iniciativas para acabar com conflitos.

Por sua vez, Elisa, advogada de direitos humanos, que trabalhou na ONU Mulheres no Kosovo, defende que os órgãos principais da ONU de proteção de direitos humanos, principalmente direitos das mulheres, não teriam um papel tão forte se não fosse a relevante atuação das representações locais da ONU. Assim, ela destaca a promoção local dos direitos humanos como base para a atuação do Sistema ONU como um todo.

E como brasileiras, o que a ONU significa para elas?

Elisa indica que a contribuição histórica do Brasil na formação da ONU, principalmente em relação à paridade de gênero, sempre foi uma inspiração e motivo de orgulho durante o desempenho de suas funções. O trabalho da diplomata Bertha Lutz, a qual foi responsável pela luta para a inclusão da igualdade de gênero na carta da ONU foi reconhecido apenas recentemente.

Ainda que a política externa brasileira atual não esteja alinhada com seu passado histórico, é interessante ver a relevância do Brasil na fundação dessa Organização. É pela reputação brasileira conquistada que o país ainda é o primeiro a discursar na abertura das sessões da Assembleia Geral.

Nathalie acredita que as iniciativas da ONU, valores defendidos e sua posição singular de instituição formada com a maioria dos países são a única possibilidade para mudar o cenário brasileiro. Assim, como brasileira e ativista dos direitos humanos, a ONU representa pra ela esperança.

Essa posição única da ONU também foi mencionada por Carolina ao descrever a ONU como “uma força multilateral e inclusiva, sobretudo para os países menos desenvolvidos.” No entanto, ressaltou  que os brasileiros, sobretudo as brasileiras, deveriam possuir mais oportunidades de participar da ONU para que ela fosse de fato abrangente.

Está nítido que a atuação da ONU é conectada com a política internacional e pode ser algo abstrato para algumas pessoas entenderem o que, de fato, é feito para proteger os direitos humanos. 

Brasileiras que já atuaram na ONU foram entrevistadas neste artigo
Carolina, Elisa e Nathalie, as entrevistadas deste artigo.

A importância dos órgãos da ONU

Para Carolina, o mais recente ganhador do Nobel da Paz, o World Food Programme – WFP é o órgão com maior cobertura geográfica da ONU, além de aportar o maior retorno humanitário. Ela explica que eles trabalham com “shock-responsive social protection”, que nada mais é do que “uma maneira de auxiliar os governos na construção de suas políticas públicas para que estas sejam preparadas para receber qualquer espécie de choque, como conflitos armados, desastres naturais, crises migratórias e outros. Sua abordagem é apontada para a sustentabilidade dos direitos humanos”.

Justamente com esse enfoque de promover direitos humanos de forma sustentável, garantir a paz e desenvolvimento dos povos que a ONU criou a agenda 2030. A agenda 2030 é direcionada aos povos, ao planeta e à prosperidade. Por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a ONU visa traçar estratégias para eliminar a pobreza, reduzir a desigualdade e estabelecer um desenvolvimento sustentável para os países.

Já Nathalie afirma que cada órgão na ONU individualmente possui um papel relevante na proteção efetiva dos direitos humanos. Ela sustenta que é justamente o trabalho desses diferentes departamentos e agências, em colaboração com outras organizações, que são capazes de garantir a proteção dos direitos humanos de uma forma coletiva.

Elisa indica o UPR – Universal Periodic Review, ligado ao Conselho de Direitos Humanos, como uma atuação relevante na proteção de direitos humanos diante da forma como foi pensado e na forma como funciona. Como o nome já diz, é um sistema de revisão periódica em que todos os estados-membros são avaliados quanto a sua atuação na proteção e promoção dos direitos humanos. O seu caráter participativo e democrático é o que faz ter essa atuação relevante, segundo Elisa, pois “todos os países vão fazer análise, mas todos serão avaliados também”.

A experiência de trabalhar na ONU

Diante da sua importância no Brasil e no mundo, trabalhar na ONU pode parecer algo impossível. Para desmistificar essa ideia e celebrar o dia das Nações Unidas, selecionamos o depoimento dessas brasileiras sobre experiências únicas que elas vivenciaram enquanto trabalhando na ONU:

Carolina: “Vivenciei um trabalho com real propósito, preocupado em prestar contas e ser transparente em todas as suas ações, não somente para instituições parceiras como também para os próprios funcionários, a fim de dar retorno ao nosso esforço e ilustrar a força das nossas ações enquanto servidores da ONU”.

Nathalie: “Tive a experiência de estar em contato com profissionais de todo o mundo que compartilham dos mesmos objetivos e que lutam pela promoção e proteção dos direitos humanos. Foi uma oportunidade incrível poder trabalhar em um ambiente dinâmico e saber que, de algum modo, eu estava contribuindo para algo maior.”

Elisa: “Acredito que o que mais me marcou foi a atuação peculiar da ONU Mulheres no Kosovo onde trabalhei, principalmente por suas duas atuações principais:

  1. Combate à violência contra a mulher. Por ser brasileira e, infelizmente acostumada com essa situação no Brasil, achava que era endêmico do Brasil, mas fiquei surpresa quando trabalhei com isso no Kosovo, para mitigar os problemas das mulheres lá. Vi que é um país progressista para algumas coisas e retrógrado para outras. A ONU Mulheres tem um papel fundamental de mudar paradigmas de papel de gênero, diante do número altíssimo de desemprego feminino que aumenta a vulnerabilidade econômica dessas mulheres. Percebi que as mulheres no Brasil são mais ativas e ainda assim têm sofrido um alto nível de violência. No fim, são contextos diferentes mas problemas comuns.
  2. Paz e segurança: O Kosovo é um território em disputa que vem de um contexto de pós-guerra. A ONU desempenha um papel de justiça de transição. Durante a guerra as mulheres foram usadas como arma de guerra, aproximadamente 20 mil mulheres foram estupradas e a ONU tem uma função relevante de tirar essas mulheres do silêncio, estigma e marginalidade colocando medidas práticas reparativas e de auxílio.”

Para quem se interessou em saber mais sobre como a ONU pode influenciar a sua vida ou o trabalho da sua empresa, recomendamos a leitura do artigo “ODS: o que esta sigla significa e como ela impacta o mundo hoje”.

O Instituto Aurora também oferece serviços para empresas envolvendo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS.

Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
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Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
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A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
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Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
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Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
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Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
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Minha empresa quer doar

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    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
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