O ODS 9 fala sobre “desenvolvimento de infraestrutura de qualidade, confiável, sustentável e resiliente, incluindo infraestrutura regional e transfronteiriça, para apoiar o desenvolvimento econômico e o bem-estar humano, com foco no acesso equitativo e preços acessíveis para todos”. Mas o que isso quer dizer na prática?
Por Gabriela Esmeraldino, para o Instituto Aurora
Para explicar o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 9 (ODS 9) é necessário entender o que são os ODS. Resumidamente, os ODS são parte de uma agenda global pactuada em 2015 com o objetivo de redução das desigualdades mundiais. Aqui no blog do Instituto Aurora você pode saber mais sobre esses objetivos no texto ODS: o que esta sigla significa e como ela impacta o mundo hoje.
É importante ressaltar que esses objetivos envolvem medidas para melhoria na saúde, educação, economia, redução das desigualdades, violências, impactos ambientais, entre outros. Tudo em busca de um mundo melhor.
Considerando que vivemos em um sistema capitalista, que tem como característica a utilização descontrolada de recursos finitos para a geração de lucro, e que se tem como pressuposto de existência as desigualdades, os objetivos são uma forma de redução de danos e de tentativa de atrasar as consequências desse sistema que por si só não é sustentável.
Para que haja desenvolvimento é necessário uma infraestrutura de qualidade, e o ODS 9 vem no sentido de buscar o fortalecimento dessa estrutura. E aqui devemos pensar estrutura de forma ampla: industrialização, acesso das pequenas indústrias a serviços financeiros, tornar indústrias sustentáveis, fortalecimento de pesquisa científica, facilitação para o desenvolvimento de infraestruturas sustentáveis e resilientes, desenvolvimento tecnológico, acesso à tecnologia da informação, comunicação e internet, construção de rodovias, portos, aeroportos, etc.
Ou seja, absolutamente tudo que é necessário para manter um país funcionando de forma a possibilitar o crescimento econômico.
Acesso à internet e tecnologias
Embora em uma primeira leitura o foco do ODS 9 pareça puramente econômico, a proposta é que esse desenvolvimento tenha um impacto social e político. Um dos aspectos mais marcantes, e que mais nos interessa aqui por ter relação direta com a educação, é o acesso à internet, tecnologias da informação e tecnologias de modo geral.
Atualmente, quase todo o conteúdo que consumimos está online. Assim, o acesso à internet e tecnologia se torna fundamental e gera impacto direto na educação e pesquisa.
Quando falamos em tecnologia e educação normalmente relacionamos a área de pesquisa, o que faz bastante sentido. Inclusive, estudos recentes mostram que a pesquisa no Brasil tem se mostrado bastante resiliente. Mesmo com baixo investimento e a tentativa do atual governo de precarização, a produção acadêmica brasileira, que chega ao âmbito internacional, continua crescendo. A academia no Brasil aprendeu a se manter mesmo com a negligência governamental, mas até isso tem um limite, de acordo com dados disponibilizados pela USP:
“A redução do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) no período 2014-2018 (contemplado pelo relatório da Unesco) foi da ordem de 50%, segundo dados também compilados por Chaimovich e publicados na edição mais recente da revista Pesquisa Fapesp. E de lá para cá, a situação só piorou. De 2012 para 2021, a redução é de dramáticos 84% — de R$ 11,5 bilhões para R$ 1,8 bilhão, em valores atualizados pela inflação.”
A pandemia de COVID-19, que iniciou em 2020, deixou à mostra e em evidência diversas vulnerabilidades do sistema. A precarização da tecnologia da pesquisa foi marcante pela dificuldade na produção de vacinas, já que o Brasil tinha disponibilidade intelectual para produção, mas faltava incentivo tecnológico.
Tecnologias e educação
Não é só no espaço acadêmico que a falta de investimento em tecnologia tem um forte impacto. Outra situação da pandemia foi a necessidade de fechar as escolas e na medida do possível tornar o ensino online, o que foi bastante difícil. A situação antes da pandemia já era complicada, de acordo com o Censo: o acesso à internet banda larga está presente em 85% das escolas particulares, mas apenas em 52,7% das escolas públicas.
Escolas fundamentais têm ainda menos acesso à tecnologia, 9,9% das escolas possuem lousa digital, 54,4% têm projetor multimídia, 38,3% dispõem de computador de mesa, 23,8% contam com computadores portáteis, 52,0% possuem internet banda larga e 23,8% oferecem internet para uso dos estudantes.
“Entre as regiões do país, o Centro-Oeste revelou ter uma infraestrutura expressiva, com 83,4% das escolas de ensino fundamental com internet banda larga. Em seguida estão Sudeste (81,2%) e Sul (78,7%). Já os estados do Norte (31,4%) e do Nordeste (54,7%) são os que têm a menor conectividade. No que diz respeito à disponibilidade de internet voltada ao uso dos alunos, o Sul se destaca. Na região, 65,4% das escolas que têm ensino fundamental oferecem aos estudantes acesso a esse recurso. Sudeste (51,8%) e Centro-Oeste (48,3%) aparecem em seguida.”
Pesquisa revela dados sobre tecnologias nas escolas | Inep
A ONU também incentiva que empresas privadas disponibilizem acesso à internet e investimento em bibliotecas e outros ambientes que possam trazer melhoria à educação e pesquisa.
Além dos investimentos tecnológicos, o próprio desenvolvimento da educação faz parte do fortalecimento estrutural e da infraestrutura, já que a melhoria na educação gera impactos em índices de desemprego e mão de obra qualificada. Tudo isso contribui para o cumprimento do ODS 9.
Nós do Instituto Aurora acreditamos que o desenvolvimento da infraestrutura, focado em questões sociais, é de grande importância quando se fala no desenvolvimento sustentável. O investimento em educação de qualidade é a base para o desenvolvimento da infraestrutura, gerando consequência em todos os outros âmbitos de desenvolvimento.
Você pode saber mais sobre a nossa visão a respeito da educação em “Nossas Frentes”.
Leia Mais:
>> ODS 7: Energia acessível e limpa
>> ODS 6: Água Potável e Saneamento Básico são direitos de todos e todas
>> ODS 4: por uma educação de qualidade para todas as pessoas
Algumas referências que usamos neste artigo:
Objetivos de desenvolvimento sustentável – 9. Indústria, Inovação e Infraestrutura | Ipea
Dados mostram que ciência brasileira é resiliente, mas está no limite | Jornal da USP