Em homenagem ao Dia Mundial da Saúde, te convidamos a refletir um pouco mais sobre o impacto da disseminação de notícias falsas no âmbito da saúde e do meio ambiente. De fato, essa tem sido uma grande preocupação da Organização Mundial de Saúde. Vamos saber o por quê?
Por Gabriela de Lucca, para o Instituto Aurora
Em 07 de abril comemoramos o Dia Mundial da Saúde. Essa data remete à criação da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1948, e tem como objetivo reunir líderes mundiais para a discussão a respeito de temas específicos sobre saúde global. Em 2022, o foco será em ações urgentes e necessárias para assegurar o bem estar dos seres humanos e do planeta, por meio do acesso equitativo à saúde e à preservação do meio ambiente. Contudo, apesar das importantes metas e discussões encaradas no âmbito da OMS, há um grande empecilho que tem preocupado a Organização: a disseminação de fake news.
Fake news sobre saúde são notícias que espalham informações falsas ou erradas sobre doenças, prevenção ou tratamento, o que pode causar riscos sérios para seu bem-estar. Segundo a infectologista e professora de Medicina da UFMG, Marise Fonseca, veiculam-se notícias falsas sobre tratamentos alternativos, que não têm comprovações científicas, e as pessoas acabam abandonando tratamentos que são comprovadamente eficazes para doenças sérias.
É importante ressaltar que as fake news não são um fenômeno novo. Na verdade, as informações e notícias falsas são, possivelmente, tão antigas quanto a própria humanidade. Mas, então, por que essa preocupação agora? Por conta da forma e da velocidade da propagação dessas notícias. Na era da informação, esse fenômeno é amplificado pelas redes sociais e se alastra mais rapidamente, como um vírus.
Segundo um artigo publicado pela revista Science em 2018, um estudo realizado por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) chegou à conclusão de que as notícias falsas se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras e alcançam muito mais gente.
Não à toa, a própria OMS decretou um estado de infodemia, que se refere a um grande aumento no volume de informações, que podem se multiplicar exponencialmente em pouco tempo. Com isso, surgem rumores e desinformação, além da manipulação de informações com intenção duvidosa.
A OMS define desinformação como uma informação falsa ou imprecisa cuja intenção é enganar de propósito. De acordo com a Organização, muitas histórias falsas ou enganosas são inventadas e compartilhadas sem que se verifique a fonte ou a qualidade. Com isso, a desinformação pode circular e ser absorvida muito rapidamente, afetando mais pessoas e comprometendo o alcance e a sustentabilidade do sistema global de saúde.
Pandemia e fake news
A prejudicialidade da disseminação de fake news ficou ainda mais evidente em tempos de pandemia. No Brasil, infelizmente, tivemos muitos exemplos de como informações e notícias falsas podem agravar e colapsar o sistema de saúde, especialmente quando essas desinformações vem de um líder político. O Presidente Jair Bolsonaro, durante esses dois anos de enfrentamento à pandemia da COVID-19, fez inúmeras declarações minimizando a emergência sanitária, contrariando as diretrizes da Organização Mundial da Saúde, incentivando aglomerações e tratamentos sem comprovações científicas, além de repudiar as vacinas.
No Brasil, foi verificada uma verdadeira organização “oculta e complexa” comandada por Jair Bolsonaro e seus filhos para a disseminação e notícias falsas sobre a pandemia, com o objetivo de extrair proveito econômico ou político, conforme concluiu o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada pelo Congresso Nacional (CPI da COVID). Segundo consta do relatório, cerca de 120.000 vidas poderiam ter sido salvas no Brasil caso fossem adotadas e divulgadas medidas sanitárias recomendadas por autoridades internacionais como a OMS.
Ainda sobre o documento final da CPI da COVID, verifica-se que este foi conclusivo pela existência de conduta criminosa dos agentes públicos, especialmente de Jair Bolsonaro, que, por várias vezes, afirmou que a vacina contra a COVID-19 causaria “morte, invalidez, anomalia”. É importante ressaltar que nenhuma das informações divulgadas pelo Presidente da República tem embasamento científico.
Impacto na vacinação
Embora sem qualquer embasamento, o fato é que as declarações feitas pelo Presidente fortaleceram o movimento antivacina no Brasil. O infectologista pediatra do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Márcio Nehab, explica que as fake news têm sido um importante fator para a crescente desconfiança da população em relação à eficiência e à segurança dos imunizantes.
A “hesitação em se vacinar” foi, inclusive, elencada pela OMS em 2019 como uma das dez maiores ameaças globais à saúde, visto que tem colocado em risco não apenas o combate à COVID-19, mas também a outras doenças já consideradas erradicadas. Em 2020, por exemplo, faltando uma semana para o fim da Campanha Nacional de Vacinação, apenas 35% de crianças brasileiras haviam sido vacinadas contra a poliomielite. O mesmo padrão se observou em relação ao sarampo e a campanha multivacinal voltada para adolescentes de até 15 anos.
ODS 3 e combate às fake news de saúde
Todos esses fatores, obviamente, significam um grande retrocesso para o sistema de saúde global. E, com razão, tem sido uma das maiores preocupações dos dirigentes não só da OMS, como da ONU como um todo, já que traz um atraso para a Agenda 2030 e para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), especialmente o número 3, que propõe “assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades”.
Inclusive, uma das metas específicas do ODS 3 é “atingir a cobertura universal de saúde, incluindo a proteção do risco financeiro, o acesso a serviços de saúde essenciais de qualidade e o acesso a medicamentos e vacinas essenciais seguros, eficazes, de qualidade e a preços acessíveis para todos”.
Para atingir essa meta, contudo, é preciso que cada um de nós esteja consciente acerca das informações que divulgamos e também das que recebemos. Para te ajudar a ter uma ideia da veracidade de certa informação, Wagner Vasconcelos, coordenador da Assessoria de Comunicação da Fiocruz Brasília, elencou alguns passos importantes para identificarmos quando uma notícia é falsa, sendo eles: ler a notícia inteira; verificar se a manchete e o texto não são alarmistas ou exagerados; prestar atenção se as informações não são vagas; verificar a data de publicação e se a imagem é verdadeira; checar a fonte; procurar se a informação foi divulgada em veículos de imprensa e em sites de verificação de notícias, como Boatos.org, Saúde sem Fake News e Fato ou Fake.
A OMS também está trabalhando em conjunto com mecanismos de busca, redes sociais e empresas digitais (Facebook, Google, Tencent, Baidu, Twitter, TikTok, Weibo, Pinterest, entre outras) para excluir mensagens falsas e promover informações precisas de fontes confiáveis, como os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e a própria OMS, por exemplo.
Nós do Instituto Aurora, além de nos comprometermos em educar em Direitos Humanos, também estamos preocupados com a qualidade das informações que repassamos, motivo pelo qual você pode acessar todas as fontes utilizadas para a produção desse texto logo abaixo, nas referências. Com isso, fazemos a nossa parte e garantimos a você a possibilidade de checar as pesquisas por si só. Inclusive, para mais informações sobre o próprio Instituto Aurora, não deixe de navegar pela seção Quem Somos aqui do site!
Leia mais:
>> ODS 3: saúde e bem-estar para todas as pessoas
>> Como a imprensa livre contribui para educar em Direitos Humanos?
>> Como construir uma cultura de paz nas redes sociais?
Algumas referências que usamos neste artigo:
“Construindo um mundo mais justo e saudável”: 07/4 – Dia Mundial da Saúde | Ministério da Saúde
7 de abril 2021 – Dia Mundial da Saúde | Unesp
World Health Day 2022 | Organização Mundial da Saúde
Conheça as fake news mais absurdas já checadas sobre o coronavírus no mundo | Uol
Precisamos falar sobre “fake news” em saúde | Brasil de Fato
ODS 3 – Saúde e Bem-estar | Ipea
Dez ameaças à saúde que a OMS combaterá em 2019 | Organização Pan-Americana de Saúde
Movimento Antivacina e Suas Ameaças – Sala de Convidados | Fiocruz
‘Fake news’ se espalham 70% mais rápido que notícias verdadeiras, diz MIT | Correio Braziliense
Fake news colocam a saúde em risco – saiba como se blindar | Veja Saúde
Fake news podem trazer impactos negativos à saúde pública | UFMG
Combate às fake news em saúde é tema de debate | Fiocruz
CONHEÇA 5 FAKE NEWS SOBRE SAÚDE E SAIBA COMO EVITAR DE COMPARTILHAR INFORMAÇÕES ERRADAS | Pfizer