Comunicamos para transformar ideias e ideais, porém ao dar visibilidade somente a um determinado gênero, automaticamente praticamos uma comunicação violenta, excludente e discriminatória. Para que a transformação aconteça é necessário ouvir, entender, aprender e praticar a linguagem inclusiva e neutra e dessa forma contribuir para o respeito à diversidade.

Por Julia Costa, para o Instituto Aurora

(Foto: Franciele Correa)

“Bom dia a todas as pessoas que estão presentes”

A frase acima é uma linguagem inclusiva ou neutra? 

Para responder essa questão, vamos entender o que são essas linguagens, as diferenças, exemplos e como as linguagens inclusiva e neutra contribuem para a inclusão e respeito à diversidade.

Neste artigo vamos abordar os seguintes tópicos:

Publicado em 11/10/2023.

O que é a linguagem inclusiva?

Nesta linguagem a ideia central é de incluir pessoas sem modificar o idioma que já temos conhecimento. Na frase inicial do artigo “Bom dia a todas as pessoas que estão presentes”, usamos a linguagem inclusiva. Culturalmente ao chegar em um local em que existem pessoas diversas a tendência é usar “todos”, assim consolidando uma cultura patriarcal que exclui toda pessoa que não se enquadra no gênero masculino no ambiente coletivo.

A linguagem está sempre em movimento, um exemplo nítido disso é a forma que Clarice Lispector escreveu “A Hora da Estrela”, com características da terceira fase modernista no Brasil – como formas pouco usuais de pontuação, ou mesmo sua ausência. Atualmente não usamos mais esse modelo de escrita, certo? Isso é um fato, mas então por que nós temos medo de que a comunicação seja transformada em algo “incompreensível” ao aprender e utilizar a linguagem inclusiva de forma conceitual? 

Para responder essa pergunta, precisamos relembrar que a regra de uso masculino para se comunicar de forma plural foi determinada nos anos 1960 por Joaquim Mattoso Câmara Jr., o primeiro linguista brasileiro. Neste vídeo, Jana Viscardi explica a trajetória de vida de Mattoso e como ele contribuiu para a linguagem masculina que utilizamos até hoje.  

Qual a diferença entre linguagem inclusiva e neutra?

A diferença entre as linguagens é que na neutra o idioma é modificado. Além da inclusão, a intenção também é dar visibilidade às pessoas que não se identificam com nenhum tipo de gênero (ela / ele), por exemplo, ao inserir “ILE” nas frases “Olá, amigues”, automaticamente não excluímos pessoas não-binárias. É possível também a inclusão de “X ou @” nas frases, por exemplo “Amigx”, “Namorad@”. 

Talvez você se questione “Mas e a inclusão de pessoas com deficiência visual ao inserir “X” ou “@” nas frases? Os programas utilizados para auxiliar na leitura conseguirão fazer a linguagem neutra ser entendida?” A resposta mais comum é “não”, mas Gabriel Aquino, pedagogo e especialista em acessibilidade e deficiência visual em entrevista para a TV UFMG afirma que é bem possível esse tipo de linguagem ser acessível para pessoas com deficiência visual. 

Devemos levar em consideração que programas de acessibilidade são construídos por pessoas, que precisam se adaptar à nova realidade para que os programas sejam acessíveis. Porém, podemos questionar a viabilidade de pronunciar frases com X e @, é inclusivo e pronunciável? Isso não significa que não devemos olhar para outras realidades e adaptações, podemos inclusive usar “ILE”, por exemplo, que a pronúncia é de fácil acesso para todas as pessoas.

Em 2003, ANITELLI d’ O Teatro Mágico criou o seguinte trecho para a música “Zaluzejo”:

“Mas quando alguém te disser tá errado ou errada, que não vai s na cebola e não vai s em feliz, que o x pode ter som de z e o ch pode ter som de x, acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz”

Se as histórias das pessoas são baseadas na língua, será que a estratégia para não modificar a escrita é uma forma de contar somente a história de determinado grupo e assim mantê-lo no poder?

Exemplos de linguagem inclusiva

Como podemos inserir a linguagem inclusiva no dia a dia? 

Acreditamos que não há uma fórmula mágica, única e correta, porém, o primeiro passo é revisitar cenas do nosso cotidiano e escutar de forma ativa como nos comunicamos. Por exemplo, imagine de forma fictícia que você está participando de uma apresentação para um determinado grupo de uma empresa, você quer fazer parte, certo? O que geralmente acontece é que automaticamente quem apresentará chamará o núcleo de “colaboradores”, mas e se essa pessoa utilizar o termo “pessoa colaboradora” que engloba a coletividade e não somente o gênero masculino?

E por falar em coletividade… Você já pensou em pesquisar  “substantivos coletivos de grupos de pessoas?” Se ainda não, este é o momento ideal!

Deixamos alguns exemplos que vão abrir portas para possibilidades de utilizar a linguagem inclusiva na sua vida:

  1. Amigos: galera, roda
  2. Estudantes: turma, classe
  3. Espectadores: plateia
  4. Coordenadores: a coordenação
  5. Os professores: o corpo docente

Como a linguagem inclusiva e neutra contribui para o respeito à diversidade?

As linguagens inclusiva e neutra têm como propósito dar visibilidade e inclusão aos grupos minorizados que são excluídos de posições importantes, principalmente quando falamos de política. Ao nos comunicarmos de forma consciente, inclusiva e neutra demonstramos respeito a toda comunidade e enfatizamos a importância dessas pessoas que são colocadas em posições menos favorecidas em relação ao gênero masculino, assim corroborando a desigualdade social, por exemplo. 

O objetivo de desenvolvimento sustentável 10 (ODS 10), da Agenda 2030 da ONU, traz como foco a redução das desigualdades, propondo que podemos aprender novos paradigmas considerando que nenhuma vida vale menos do que a outra e a partir disso podemos repensar as relações de poder econômico e cultural.

Uma contribuição importante para o tema foi a do STF em fevereiro de 2023 que derrubou a lei que proíbe o uso da linguagem neutra nas escolas de determinados estados. A ação é vista como uma iniciativa de inclusão e avança no tratamento com igualdade de gênero e espera-se que outras instituições que possuem influência adotem a medida para que a igualdade e respeito sejam para todas as pessoas.

Sabemos que toda mudança gera desconforto no início, mas com o passar do tempo vira algo natural e confortável, e para praticar a linguagem inclusiva e neutra precisamos praticar epoché (de forma breve, para a psicologia fenomenológica, entende-se como suspensão de juízo), ou seja, não aceitar nem negar determinada ideia mas observar para compreender e a partir disto realizar movimentos para que as transformações ocorram.

Durante a pesquisa do Instituto Aurora para o “Panorama da Educação em Direitos Humanos no Brasil: órgãos, políticas e ações”, entrevistamos pessoas responsáveis pela EDH nos estados e no distrito federal. Dentre os temas citados como sendo trabalhados pela EDH, o estado do Ceará abordou a linguagem inclusiva.

A Coordenadoria de Políticas Públicas de Direitos Humanos da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos do Ceará comentou que uma de suas políticas é a formação de técnicos e gestores online por meio do “Curso de Direitos Humanos, Cidadania e Educação Inclusiva”. Um dos focos do curso é a forma como as pessoas devem ser tratadas, por exemplo, em relação à linguagem.

Após a leitura, como você se sente em relação ao uso da linguagem inclusiva e neutra? A utilização da linguagem inclusiva e neutra é um trabalho de coletividade, em que o objetivo central é a de que todas as pessoas possam ocupar espaços, contar histórias e assim viver em um mundo com mais igualdade.

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Algumas referências que usamos neste artigo:

FISCHER, A. Manual Prático de Linguagem Inclusiva. São Paulo: 2020.

ZAMBRANO, Priscila Cristina. Linguagem inclusiva em destaque: pesquisa, análise e divulgação dos xis da questão. 2022.

Linguagem inclusiva e linguagem neutra: entenda a diferença | Politize!

Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
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Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
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A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
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Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
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Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
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Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
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Minha empresa quer doar

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    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
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