No âmbito internacional, a comemoração dos Direitos Humanos ocorre no dia 10 de dezembro, em homenagem à aprovação da Declaração de Direitos Humanos, em 1948, pela Organização das Nações Unidas. No Brasil, contudo, a escolha da data deu-se anos depois, e teve como marco lutas internas e desafios enfrentados pelo país na proteção e manutenção dos direitos individuais e coletivos. Por isso, hoje te convidamos a refletir sobre essa data e conhecer um pouco mais sobre a história por trás do Dia Nacional dos Direitos Humanos.

Por Gabriela de Lucca, para o Instituto Aurora

Em 2012 foi promulgada a Lei nº 12.641, que estabeleceu a data anual de 12 de agosto como o Dia Nacional dos Direitos Humanos. A data remete ao dia em que Margarida Maria Alves foi assassinada, no ano de 1983, em pleno Regime Militar.

Margarida Maria Alves

Nascida em 1933, no município de Alagoa Grande, na Paraíba, Margarida foi a primeira mulher a assumir a presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, em 1972. Em seus 12 anos à frente do sindicato, ela moveu ao menos 73 ações contra as usinas de cana de açúcar da região na defesa dos direitos dos trabalhadores e fundou o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural, em combate ao analfabetismo.

Durante sua luta, Margarida foi alvo de diversas ameaças, mas nenhuma capaz de intimidá-la. Em suas palavras, “é melhor morrer na luta do que morrer de fome”. E assim foi feito. Margarida, que tanto lutou pela defesa dos direitos humanos, foi assassinada em 12 de agosto de 1983, com tiros no rosto em sua própria casa, na presença de seu marido e de seu filho, de apenas oito anos. 

O crime, pelo que foi apurado, foi cometido por um assassino de aluguel, contratado por grandes fazendeiros da região de Alagoa Grande, na Paraíba. Em 1995, o Ministério Público denunciou como mandantes quatro latifundiários, dos quais apenas um foi levado a julgamento perante o Tribunal do Júri, sendo inocentado. 

O caso ganhou repercussão internacional e foi denunciado perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Em 2020, a Comissão emitiu relatório de mérito sobre o caso, reconhecendo a responsabilidade do Estado brasileiro pela violação do direito à vida, à integridade pessoal e à justiça. Diante disso, foram feitas quatro recomendações ao Brasil, dentre as quais o fortalecimento do Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos, de forma a prevenir atos de violência contra defensores e defensoras de direitos dos trabalhadores no Brasil, bem como o fortalecimento da capacidade investigativa para esse tipo de crime.

Independente do desfecho jurídico alcançado pelo caso, o fato é que a luta de Margarida é reconhecida até hoje, não só pela instituição do Dia Nacional dos Direitos Humanos em sua memória, mas também pela “Marcha das Margaridas”, uma manifestação que reúne milhares de mulheres camponesas de diversas regiões do país em Brasília e é considerada o maior movimento de mulheres trabalhadoras da América Latina. Margarida, assim, segue presente, em cada luta e em cada batalha pela defesa dos direitos humanos no Brasil.

Reflexões para o Dia Nacional dos Direitos Humanos

O Dia Nacional dos Direitos Humanos, ao contrário do Dia Internacional dos Direitos Humanos, não é uma data de comemoração, mas sim de reflexão. É momento para refletir sobre nossos direitos e sobre as lutas ainda necessárias que precisamos travar para garantir o acesso a esses direitos também aos mais vulneráveis.

Segundo o Defensor Público e Coordenador do Núcleo da Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Paraná, Dr. Júlio Salem Filho, “mais do que celebrar, a data serve de referência para reflexão sobre a enorme desigualdade socioeconômica que marca o Brasil de norte a sul, o massivo desrespeito aos direitos fundamentais, individuais e sociais, e a especial falta de empatia com as necessidades da população que enfrenta maiores vulnerabilidades”.

De fato, há muito a ser feito para garantir efetivamente no Brasil o mínimo de igualdade e respeito inerentes a todo ser humano. O caminho ainda é longo, mas o primeiro passo precisa ser dado. E esse passo é, inevitavelmente, a educação, especificamente a educação em direitos humanos.

Não existem dúvidas de que as recomendações feitas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos no Caso Margarida Alves são imprescindíveis e urgentes no Brasil. Contudo, em paralelo ao fortalecimento dos mecanismos institucionais de proteção, é, também, extremamente necessária a disseminação de informações e conteúdos sobre direitos humanos, de modo que todos os preconceitos que ainda pairam sobre o assunto sejam combatidos, e possibilitem a luta de todos e todas por seus direitos. 

Nesse sentido, separamos alguns artigos aqui do blog que podem te ajudar a entender e refletir mais sobre esse tema, nesta data tão importante. Confira:

O que são direitos humanos e por que são direitos de todos nós

O que entendemos por cultura de direitos humanos e como construí-la

Ações para uma cultura de direitos humanos: tolerância

Como você pôde ver, o Instituto Aurora tem como missão educar em direitos humanos, ampliando a compreensão do tema e promovendo diálogos com diversos públicos: juventudes, servidores públicos, colaboradores do setor privado e sociedade em geral. O objetivo é, sem dúvidas, democratizar conteúdos e informações, a fim de transformar o mundo em um lugar mais justo e solidário. Contamos com a sua ajuda. Para conhecer mais sobre o nosso trabalho navegue pela seção Quem Somos aqui do site!

Algumas referências que usamos neste artigo:

12 de agosto – Dia Nacional dos Direitos Humanos

Dia Nacional dos Direitos Humanos: se importar com o outro é olhar para si

Direitos Humanos para todos

LEI Nº 12.641, DE 15 DE MAIO DE 2012.

Dia Nacional dos Direitos Humanos

RELATÓRIO Nº 9/08 CASO 12.332

RELATÓRIO Nº 31/20 CASO 12.332 RELATÓRIO DE MÉRITO

Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
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Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
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A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
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Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
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Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
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Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
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Minha empresa quer doar

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    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
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