Olhar para as demandas da sociedade e atuar sobre elas, essa também é uma conversa para as organizações. Afinal, o que são as práticas de ESG que estão em alta?
Por Maria Beatriz Reis Dionísio, para o Instituto Aurora
(Foto: Letícia Camargo)
No mundo empresarial, a sigla ESG tem se tornado cada vez mais conhecida. Há uma intensificação da necessidade em se adotar práticas ESG nas organizações, no entanto, ainda existem muitas empresas que não acreditam nelas como algo aplicável aos negócios. Hoje falaremos sobre a importância da adoção de práticas ESG no meio empresarial que afetam diretamente a sociedade como um todo. Essas duas coisas não estão desconectadas, vamos ver?
A sigla ESG significa, em inglês, “environmental, social and governance” o que faz jus às práticas ambientais, sociais e de governança no mercado de capitais. Em 2004, o termo foi utilizado pela primeira vez em uma publicação do Pacto Global da ONU em parceria com o Banco Mundial. Aqui no Instituto Aurora já falamos sobre o Pacto Global e sua relação com a sustentabilidade corporativa, confira sobre o que se trata e quais são os princípios norteadores da diretriz em questão.
Em resumo, para as Nações Unidas, sustentabilidade significa cumprir responsabilidades fundamentais nas áreas de Direitos Humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. Para o diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, Carlo Pereira, “ESG não é uma evolução da sustentabilidade empresarial, mas sim a própria sustentabilidade empresarial”. A fórmula do ESG é minimizar os impactos negativos na sociedade, potencializar os positivos e equacionar os prejuízos provocados.
Para além disso, falar sobre sustentabilidade não tem sido apenas um item na lista de deveres das organizações, mas tem mobilizado a economia de forma global e apresentado retornos financeiros substanciais para os que estão inseridos no mercado. Aplicar aos critérios de ESG não apenas produz efeitos internos nas organizações e externos na sociedade, também tem funcionado como um “selo” de garantia da qualidade e confiança sobre as empresas, a ponto de interferirem nas decisões de investidores quando não o possuem.
O que vamos abordar neste artigo:
Publicado em 20/12/2023.
Os princípios de ESG
Os princípios norteadores das práticas de ESG falam sobre necessidades emergentes da sociedade. Uma empresa não está deslocada dessa realidade, pelo contrário, já que seu impacto na economia afeta a outros setores, como político e social. A seguir, falaremos brevemente do que se trata cada um dos princípios.
Ambiental
As alterações climáticas que vêm sendo noticiadas de forma cada vez mais recorrente são alguns dos alvos do princípio ambiental. Como a empresa se posiciona em relação às questões de mudanças climáticas? Quais impactos ambientais decorrem do exercício de suas atividades? Como ela lida com a emissão de carbono devido à poluição do ar e da água?
Social
O critério social coloca o foco na relação da empresa com funcionários e funcionárias e até mesmo fornecedores. Fala sobre a preocupação com o bem-estar das partes envolvidas ou, no caso de fornecedores, como são avaliados quanto aos critérios ESG. Aqui estamos falando sobre o posicionamento da empresa quanto aos direitos humanos e leis trabalhistas, por exemplo.
Nesse sentido, a pauta sobre Diversidade e Inclusão possui grande relevância nesse debate, e nesses artigos publicados aqui no blog você pode se aprofundar mais a respeito da sua importância no meio empresarial: O que Diversidade e Inclusão tem a ver com Direitos Humanos? e Como construir um ambiente de trabalho inclusivo?
Governança
O princípio de governança está associado à maneira com que a empresa é administrada pela gestão executiva e conselho administrativo, levando em consideração a metodologia de contabilidade empregada, a transparência financeira e contábil e a emissão de relatórios financeiros completos, por exemplo. Além disso, busca compreender se há uma preocupação em atender aos interesses de funcionários, clientes e acionistas também.
Práticas em ESG
Agora que já sabemos mais detalhadamente sobre os critérios ESG, isso nos dá uma boa dimensão sobre onde é necessário atuar, certo? Para auxiliar ainda mais nesse processo e responder às dúvidas sobre como deve se seguir as práticas ESG, a Rede Brasil do Pacto Global propõe que as empresas façam dois questionamentos:
- Minha empresa está em conformidade com os Dez Princípios do Pacto Global?
- Minha empresa tem projetos que contribuem para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU?
Como as empresas se comportam em relação à integração desses princípios e objetivos são norteadoras quanto às práticas em ESG, visto que eles pretendem atender às demandas comuns inseridas às questões de meio ambiente, sociais e de governança da sigla. Estar por dentro desse conjunto de práticas é de interesse tanto das empresas como também dos consumidores e consumidoras. É cada vez mais comum que se observem os aspectos de sustentabilidade na hora de escolher um produto, por exemplo.
ESG no Brasil
Um estudo que apresenta a evolução do ESG no Brasil conta que em 2019 a discussão sobre a terminologia era pouco adotada no país e possuía um enfoque no critério ambiental, estimulado principalmente pela situação preocupante da Amazônia naquele momento, em vista dos casos de desmatamento, queimadas e extinção da biodiversidade.
Já em 2020, a pandemia da Covid-19 exigiu que as empresas tivessem maior compreensão sobre aspectos sociais e de sustentabilidade, fazendo com que a discussão sobre o conceito crescesse exponencialmente. Neste estudo, realizado pela Rede Brasil do Pacto Global em parceria com a Stilingue, o apoio emergencial à Covid-19 estava, naquele ano, entre as cinco principais iniciativas das empresas.
Dentre os setores que mais estiveram ligados às discussões sobre ESG, destaca-se o financeiro. Não é de se estranhar, pois há uma crescente nas gerações mais recentes em se interessarem prioritariamente por investimentos sustentáveis e, de modo geral, estarem fortemente inseridos em pautas sociais, sobre meio ambiente e questões políticas.
Na corrida por se tornarem especialistas no assunto, ainda em 2020, a Bolsa de Valores do Brasil – a B3 – lançou o Índice S&P/B3 Brasil ESG, voltado especificamente para a seleção de empresas comprometidas com as práticas ambientais, sociais e de governança. Outro exemplo acerca das primeiras iniciativas nacionais na temática foi a criação de um fundo dedicado aos aspectos ESG das empresas pelo banco BTG Pactual. Por fim, na pesquisa em questão o setor do agronegócio também apareceu como sendo um dos que mais possui familiaridade com o conceito de ESG.
Relação entre ESG e os ODS
Os critérios de ESG estão alinhados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pelas Nações Unidas (ODS), os quais apresentam os desafios da sociedade e as demandas emergentes. Os ODS são parte da Agenda 2030, documento que traça um plano de ação para tornar o mundo melhor em relação às pessoas, planeta, prosperidade, paz e parceria.
As empresas são peças fundamentais para o alcance dos objetivos da Agenda 2030, pois somente mudanças na economia serão capazes de dar continuidade e avançar nos objetivos. Infelizmente são poucas as empresas que de fato integram os objetivos de desenvolvimento sustentável em suas estratégias de negócios. De acordo com relatório da ONU (2020), embora 84% das companhias realizem ações em prol dos ODS, menos da metade de fato incorpora a questão de forma estratégica.
De acordo com Mahryan Sampaio e Camila Berteli, integrantes do Instituto Perifa Sustentável, é comum que as instituições ainda foquem muito nas barreiras para a implementação do ESG e atribuam pouco valor ao seu potencial de impacto.
No entanto, há cada vez menos espaço para crescimento para quem opta por estar alheio às práticas ESG, e isso vale para todos os atores envolvidos: empresas, funcionários, consumidores, investidores, fornecedores e muito mais. Uma ameaça à espécie humana não é interessante para ninguém, pois não há mercado sem pessoas, natureza e vida.
Caso esse não seja argumento suficiente para mobilização em direção a implementação do ESG, há de se considerar que a defesa da sustentabilidade tem sido associada a apresentação de melhores resultados financeiros nas empresas e mostra maior resiliência delas. Acredita-se que isso se deve ao fato das organizações que integram práticas ESG olharem constantemente para o longo prazo e construírem ações mais sólidas, sobretudo em situações de crise.
Conclusão
A discussão sobre as práticas de ESG, felizmente, ganhou maior foco nos últimos anos dada a necessidade crescente de uma participação integral da sociedade em demandas que arriscam a sobrevivência e dignidade da humanidade. Ainda há um longo caminho a se percorrer, no entanto, é notável que a implementação dos critérios ESG tem sido associada à qualidade das organizações e está transformando sua atuação em diversos setores.
O desafio atual parece ser integrar o discurso com práticas mais efetivas, pois somente dessa forma poderemos caminhar em direção a um mundo melhor em que haja respeito pelos direitos fundamentais de todas as pessoas e pela natureza.
O Instituto Aurora atua na promoção e defesa da Educação em Direitos Humanos e também oferece serviços para empresas, como palestras e oficinas. Saiba mais em “Faça Parte”.
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