No dia 25 de julho é comemorado o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. No Brasil, nesta data, também é celebrado o Dia de Tereza de Benguela. Neste artigo, vamos abordar as origens destas datas e sua importância.
Por Mayumi Maciel, para o Instituto Aurora
(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Na sociedade brasileira, na América Latina e no Caribe, as mulheres negras têm longa história de luta contra as opressões. Ao analisarmos dados socioeconômicos, percebemos como são uma grande parcela da população que sofre com as desigualdades. Neste Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, é importante refletirmos e tomarmos atitudes para o reconhecimento da luta e valorização destas mulheres.
O Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha
A data de 25 de julho foi escolhida como Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha em menção ao 1º encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, realizado na República Dominicana, em 1992. O objetivo do encontro era a união destas mulheres e visibilizar a luta contra o racismo e o machismo.
No Brasil, pela Lei 1297 de 2014, nesta data é comemorado também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Quem foi Tereza de Benguela
Homenageada no dia 25 de julho, Tereza de Benguela viveu no século XVIII e assumiu a liderança do Quilombo Quariterê após a morte de seu marido, e também líder do local, José Piolho.
Chamada de Rainha Tereza, ela liderou a resistência de negros e indígenas pelo período de duas décadas. Sob seu comando, o governo do quilombo era no estilo de um Parlamento, e o sistema de defesa foi bastante desenvolvido. A comunidade vivia da plantação de algodão, milho, banana, entre outros.
>> Dica: No livro “Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis”, de Jarid Arraes, uma das homenageadas em cordel é Tereza de Benguela.
A luta das mulheres negras no Brasil
Como podemos ver com o exemplo de Tereza de Benguela, mulheres negras sempre foram ativas na luta contra opressões no Brasil. Muitas vezes, não sabemos de sua participação e importância devido a um apagamento de seus atos. Por isso, fazer um resgate histórico é de grande importância.
Se formos pensar no feminismo negro como um movimento social organizado, seu desenvolvimento tem início na década de 1970, com o Movimento de Mulheres Negras (MMN). Antes disso, no entanto, já havia iniciativas como o Conselho Nacional de Mulheres Negras, que foi fundado em 1950, por Lourdes Vale Nascimento.
Na década de 1980, o feminismo negro ganha força, com a criação de coletivos de mulheres negras e organizações como Nzinga: Coletivo de Mulheres Negras/RJ, Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa, Geledés, entre outros. Este período também é marcado pelo trabalho de importantes pensadoras como Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro.
Mais recentemente, em 2015, foi realizada a 1ª Marcha das Mulheres Negras, em Brasília, com a pauta “Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver”. Novas marchas de mulheres negras foram realizadas em anos posteriores.
Além disso, os Movimentos de Mulheres Negras do Brasil vêm promovendo o Julho das Pretas. A ação foi criada em 2013, pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, e promove uma série de atividades durante todo o mês de julho, em menção ao Dia da Mulher Negra Latino-Americano e Caribenha. A edição de 2022 conta com o tema “Mulheres Negras no Poder, Construindo o Bem Viver”.
Contexto atual das mulheres negras no Brasil
O ano de 2022 marca o aniversário de 30 anos do 1º encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas. Ainda vivemos em uma sociedade racista e machista, então queremos relembrar dados que comprovam a importância desta luta.
Levantamentos do IBGE apontam que 54% da população brasileira é negra. Mesmo assim, a representatividade em posições de poder é baixa, e a disparidade de renda é alta.
O estudo “Quanto fica com as mulheres negras? Uma análise da distribuição de renda no Brasil”, realizado pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades, da Universidade de São Paulo (Made/USP), apontou que 1% dos homens brancos que estão no topo dos mais ricos do país ganham mais do que todas as mulheres negras brasileiras, que correspondem a 26% da população adulta.
A Síntese de Indicadores Sociais, divulgada pelo IBGE, mostra que as mulheres negras têm as maiores incidências de pobreza e extrema pobreza no país. Um terço desta população vive em situação de pobreza.
O Atlas da Violência 2021 apresenta dados de que 66% das mulheres assassinadas no Brasil em 2019 eram negras. O risco relativo de uma mulher negra ser vítima de homicídio é 1,7 vezes maior do que o de uma mulher não negra. O estudo mostra ainda que entre 2009 e 2019, o número de mulheres não negras assassinadas caiu 26,9%, enquanto o número de mulheres negras assassinadas subiu 2%. Ou seja, existe uma desigualdade na forma como as políticas públicas e a prevenção à violência afetam as mulheres negras e não negras.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, a violência obstétrica atinge uma a cada quatro mulheres no Brasil. Dessas, cerca de dois terços são negras. 65% dos óbitos maternos no país também são de mulheres negras.
Com o levantamento desses dados sobre questões econômicas, de trabalho, de segurança e de saúde, podemos perceber como ainda temos muito a caminhar na valorização das vidas das mulheres negras.
Como a Educação em Direitos Humanos pode contribuir para a luta das mulheres negras?
A Educação em Direitos Humanos, a nosso ver, não consiste apenas em conhecer quais são os Direitos Humanos. Mas, a partir disso, adquirir ou transmitir conhecimentos, desenvolver habilidades e atitudes, e apreender valores coerentes com os Direitos Humanos.
Desta forma, podemos saber quais são nossos direitos humanos, reconhecer e aceitar as diferenças e adentrar as esferas morais e afetivas que nos formam enquanto seres humanos.
Assim, com base nos dados levantados anteriormente, é possível perceber a desigualdade social e econômica que atinge as mulheres negras em nosso país. Portanto, é hora de pensar em atitudes que possam contribuir para a diminuição de desigualdades e preconceitos. O Instituto Aurora está comprometido com a Agenda 2030 da ONU e desenvolve projetos e atividades que visam a Redução de Desigualdades.
Dentre eles, podemos citar o Diálogos Inter-raciais, realizado em parceria com o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) do IFPR Campus Curitiba e a Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso). São encontros que buscam tratar de temas como racismo no Brasil, posicionamento antirracista, empoderamento da população negra e branquidade crítica.
Outro exemplo é o Humanidade Se Compartilha, que em sua segunda edição trouxe histórias de mulheres que subverteram o estereótipo a elas atribuído. Entre elas, contamos com a participação de Carol Dartora, primeira negra a se eleger vereadora em Curitiba.
Algumas referências que usamos neste artigo:
SANTOS, Steffane Pereira. Movimento de Mulheres Negras no Brasil: Rompendo com os silenciamentos e protagonizando vozes.Revista de Ciências do Estado. Belo Horizonte: v. 5, n. 2, e24506. ISSN: 2525-8036.