Resgate de valores como respeito, cooperação e responsabilização dos indivíduos integram as práticas baseadas no conceito de justiça restaurativa

Por Ana Carolina Maoski, para o Instituto Aurora

Talvez você já tenha ouvido falar no termo justiça restaurativa ao consultar os materiais do Instituto Aurora, mas você sabe quais práticas estão por trás desse conceito? Nós preparamos esse texto para te ajudar a compreender melhor essa ideia e como ela pode ser aplicada em diferentes espaços. 

A Justiça Restaurativa demanda de uma “troca de lentes” sobre a forma como compreendemos a justiça. Imagem: Pixabay.

A ideia de justiça restaurativa tem origem nos campos das Ciências Sociais Aplicadas e das Ciências Humanas. O princípio central que orienta essa prática gira em torno da ideia de que relacionamentos podem ser restaurados a partir do resgate de valores como respeito, cooperação e responsabilização. 

Nessa perspectiva, as mudanças positivas de comportamento vêm da atuação em conjunto entre indivíduos implicados em situações de conflito e violência, que podem ter origem em diferentes ambientes como o familiar, escolar e penal. 

Segundo Howard Zehr, professor especialista em justiça restaurativa, a solução dos conflitos não se dá pelo castigo e/ou vingança. Existem outras formas de lidar com essas questões, mais focadas na reparação de danos através da conscientização. Sendo assim, a prática demanda de uma “troca de lentes” sobre a forma como compreendemos a justiça.  

>> Para entender mais sobre o tema, recomendamos a leitura dos livros Justiça Restaurativa e Trocando as Lentes, de Howard Zehr. 

A Justiça Restaurativa no Brasil 

No Brasil a Política Pública Nacional de justiça restaurativa foi instituída no poder judiciário a partir da Resolução CNJ nº 225/2016. A normativa define os parâmetros para o desenvolvimento de práticas e programas baseados nessa filosofia. 

No documento, as práticas de justiça restaurativa são definidas como tendo foco “na satisfação das necessidades de todos os envolvidos, a responsabilização ativa daqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a ocorrência do fato danoso e o empoderamento da comunidade, destacando a necessidade da reparação do dano e da recomposição do tecido social rompido pelo conflito e as suas implicações para o futuro”.

Nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), através do Comitê da Justiça Restaurativa,  tem papel fundamental no acompanhamento dessas práticas no sistema judiciário. 

CIS Piraquara: Inovação e Reinserção Social

Um exemplo prático de aplicação da justiça restaurativa vem do Centro de Integração Social (CIS), localizado no Complexo Penitenciário de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba.

O centro, inaugurado em 2020, é a primeira unidade de progressão feminina no regime fechado do Brasil.  

Além de proporcionar a oportunidade de trabalho e estudo em tempo integral para essas mulheres, todos os funcionários do CIS Piraquara passaram por uma formação com foco nas práticas da  justiça restaurativa.  

A proposta é que o processo de reinserção social dessas mulheres em conflito com a lei seja realizado de maneira humanizada, a partir da construção de soluções inovadoras e colaborativas.

Desde a sua inauguração, o Instituto Aurora tem atuado como parceiro do CIS Piraquara ofertando atividades voltadas para o uso da literatura na educação em Direitos Humanos. As rodas de leitura no local foram realizadas de forma online e os temas dos encontros foram elaborados a partir de contos do livro “Redemoinho em dia quente“, de Jarid Arraes. 

A nossa proposta é a de criar um espaço seguro para que essas mulheres possam compartilhar experiências e desenvolver percepções sobre diferentes temas a partir da leitura.

>> Dica de Conteúdo do Instituto Aurora 

O Podcast “Praia dos Ossos” é uma produção da Rádio Novelo que reconstitui o assassinato da socialite Angela Diniz, sua repercussão e seus desdobramentos no país, com foco nas questões de gênero que circundam o caso. 

No oitavo e último episódio da série, a jornalista Branca Vianna, apresentadora do podcast,   apresenta a Justiça Restaurativa como um modelo mais efetivo para ressocialização de pessoas em conflito com a lei. Vale a pena conferir! 

Colocando a Justiça Restaurativa em Prática na Escola e na Família

Fernanda Celano é assistente social, consultora na área de Justiça Restaurativa e uma das fundadoras do Instituto Aurora. Ela explica que a justiça restaurativa vai além das suas aplicações no sistema penal. As diferentes práticas baseadas nesse princípio, como os círculos de construção de paz, podem ser utilizadas também nos contextos escolar, familiar e profissional.

“A justiça restaurativa tem foco na restauração de relacionamentos. Nesse sentido ela pode ser aplicada em qualquer espaço onde se desenvolvam relações humanas. Ela não é apenas um contraponto a uma justiça punitiva e se destaca pelo resgate de alguns valores e virtudes na sociedade, como o respeito, cooperação e a corresponsabilização”. 

No ambiente escolar as práticas restaurativas têm sido cada vez mais difundidas como ferramentas para trabalhar questões como o bullying e outros conflitos originados na convivência dos alunos. Nesse sentido os cursos de formação em práticas restaurativas cumprem um importante papel na difusão dessas ferramentas.

Se interessou pelo tema e gostaria de entender melhor como funcionam os círculos de construção de paz, uma das ferramentas práticas desenvolvidas com base na justiça restaurativa? Confira esse conteúdo especial do nosso blog: Círculos de Construção de Paz: uma prática ancestral nos dias atuais!

Algumas referências que usamos nesse texto:

What Is Restorative Practices?

O Que são Práticas Restaurativas?

Justiça Restaurativa.

Nova unidade penal feminina terá estudo e trabalho em tempo integral.

(Foto: Carol Castanho)

Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
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Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
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A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
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Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
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Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
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Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
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Minha empresa quer doar

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    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
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