O racismo ambiental atinge as populações negras e indígenas, pois elas estão mais expostas a catástrofes ambientais e às difíceis condições sanitárias, pelo fato de fazerem parte de grupos vulneráveis e habitarem regiões menos preparadas para as mudanças climáticas.
Por Josiane A. Iurkiu, para o Instituto Aurora
(Foto: Aldward Castillo / Unsplash)
Segundo Huri Paz, autor do artigo Racismo ambiental e mobilidade urbana na cidade do Rio de Janeiro: estudo de caso sobre a Perifa Connection, que integra a sexta edição da coletânea Desafio, que é resultado de um projeto do Cebrap em parceria com o Itaú-Unibanco, em artigo para a USP, em 2023:
“A noção de racismo ambiental vem sendo cada vez mais utilizada pelo movimento negro no Brasil para discutir os impactos da mudança climática e das decisões dos governos sobre a vida da população negra”.
Neste mesmo artigo, Thuane Nascimento, articuladora popular e participante da Perifa Connection, entrevistada por Huri diz:
“Temos que salvar as baleias do Ártico? Sim, elas são superimportantes. Mas não tenho tempo de salvar a baleia porque eu preciso me salvar. Nós, jovens negros da periferia, morremos a cada 23 minutos. Se as baleias morrerem num tempo maior, estão melhor que a gente”.
O que vamos ver neste artigo:
- O que é racismo ambiental
- Exemplos de racismo ambiental
- Quais as consequências do racismo ambiental
- Como o racismo ambiental está ligado a extremismos
- Educação em Direitos Humanos para prevenir extremismos
Publicado em 04/06/2025.
O que é racismo ambiental
Racismo ambiental é um termo usado para se referir à falta de políticas públicas em planejamento urbano, desde a infraestrutura ao saneamento básico, em regiões periféricas, onde residem pessoas marginalizadas e em sua maioria negra.
Conforme diz Cristiane Faustino, assistente social, integrante do Instituto Terramar, em Fortaleza (CE), e Relatora do Direito Humano ao Meio Ambiente da Plataforma Dhesca Brasil em 2013, em reportagem de Jéssica Moreira, para o “Nós Mulheres da Periferia”: “Podemos conceituar o racismo ambiental como a prática de destinar às comunidades e populações negras, indígenas, não-brancas e imigrantes os piores efeitos da degradação ambiental”.
De acordo com artigo do CCE – Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho, em maio de 2023, o racismo ambiental é uma forma de desigualdade socioambiental, que traz sérias consequências para as comunidades marginalizadas, pois elas sofrem com os efeitos negativos da poluição ambiental e da ausência do estado, que deveria fornecer recursos e serviços ambientais, proporcionando maior proteção ambiental e melhor qualidade de vida.
A expressão “Racismo Ambiental”, foi criada na década de 1980, por Benjamin Franklin Chavis Jr., líder do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Ocorreu em meio a protestos contra a instalação de depósitos de resíduos tóxicos no condado de Warren, no estado da Carolina do Norte (EUA), onde a maioria da população era negra.
Exemplos de racismo ambiental
O racismo ambiental pode ser percebido nas infraestruturas de bairros, favelas e comunidades periféricas, pela ausência de serviços básicos e políticas ambientais e de saúde pública.
São alguns exemplos:
No saneamento básico e resíduos:
- Falta de acesso a saneamento básico: É comum nas periferias e comunidades carentes a ausência ou precariedade de sistemas de coleta de esgoto, o que leva à contaminação da água e do solo, proliferando doenças.
- Destinação inadequada de resíduos: Por falta de coleta ou ineficácia do serviço de coleta, os resíduos são descartados em locais incorretos e em alguns casos, são incinerados de maneira inadequada também.
Ainda há situações em que o poder público instala lixões e aterros sanitários próximos a bairros periféricos, causando poluição do ar, da água e do solo, além de problemas de saúde para os moradores.
Em desastres ambientais:
- Enchentes e deslizamentos: Sem opção e à margem da sociedade, as populações de baixa renda constroem suas casas em áreas de risco, como encostas e margens de rios, áreas afetadas por enchentes e deslizamentos, muitas vezes resultando em perdas de moradias e vidas.
- Poluição industrial e de agrotóxicos: A baixa fiscalização e a impunidade oportunizam que as indústrias poluentes descartem seus resíduos diretamente na natureza, sem o devido tratamento.
O uso intensivo de agrotóxicos em áreas próximas a comunidades quilombolas e indígenas contaminam o solo, a água e o ar, afetando a saúde e os modos de vida tradicionais dessas populações.
Em projetos de desenvolvimento e infraestrutura:
- Construção de hidrelétricas e rodovias: Elas obrigam e deslocam comunidades indígenas e ribeirinhas de suas terras tradicionais, impactando seus meios de subsistência e cultura, além de causar danos à biodiversidade local.
No acesso a recursos naturais e serviços ambientais:
- Restrição ao acesso à água e à terra: Comunidades tradicionais, como indígenas e quilombolas, frequentemente enfrentam dificuldades no acesso e na demarcação de suas terras, bem como no acesso à água potável, sendo impactadas por atividades como o agronegócio e a mineração.
- Menor acesso a áreas verdes e arborização: Por falta de planejamento urbano, os bairros periféricos e favelas geralmente possuem menor quantidade de áreas verdes e arborização, o que contribui para o aumento da temperatura e a piora da qualidade do ar.
Como crise sanitária e saúde:
- Doenças relacionadas à contaminação ambiental: A exposição a poluentes e a falta de saneamento básico contribuem para a maior incidência de doenças respiratórias, infecciosas e outras condições de saúde.
Quais as consequências do racismo ambiental
O racismo ambiental expõe comunidades marginalizadas a uma carga desproporcional de riscos ambientais, como poluição, desastres naturais e os impactos das mudanças climáticas.
As consequências do racismo ambiental vão além das questões ambientais, enfraquecem a economia local, aumentam os índices de violência e insegurança, colocam a comunidade toda em maiores riscos à saúde e à integridade física.
Estas pessoas estão sujeitas a sofrerem mais doenças, mais acidentes com desastres naturais e enchentes, perdas materiais, perdas de vida, falta de oportunidades e subempregos, além da evasão escolar, o que reforça para que o racismo ambiental seja perpetuado. Pois está na educação o caminho para combater tanto o racismo ambiental quanto as desigualdades sociais, uma vez que a educação é um direito que contribui para o acesso a outros direitos.
Como o racismo ambiental está ligado a extremismos
Extremistas podem explorar as vulnerabilidades e desigualdades, usando o sofrimento dessas comunidades como um ponto de inflamação para radicalização e recrutamento. Eles podem apresentar narrativas que culpam outros grupos (como imigrantes, outras etnias ou o “sistema”) pela degradação ambiental e pela injustiça sofrida pelas comunidades afetadas.
A população dessas comunidades vulneráveis pode se sentir injustiçada e com raiva, um misto de frustração e desesperança, favorecendo sua exploração por parte dos extremistas, que acabam oferecendo explicações simplistas e soluções violentas para os problemas enfrentados.
É necessário desenvolver estratégias eficazes de combate ao extremismo e de promoção da justiça ambiental. Pensar em formas reduzir as desigualdades socioambientais, além de combater as narrativas de ódio e a exploração das vulnerabilidades por grupos extremistas.
Educação em Direitos Humanos para prevenir extremismos
A Educação em Direitos Humanos (EDH) contempla ações de prevenção de extremismos, abordando temas como a intolerância, o preconceito e a violência. Promove o respeito, a igualdade, a dignidade humana e a empatia, cooperando para resiliência individual e coletiva contra ideologias extremistas.A EDH pode ensinar a analisar informações de forma crítica, questionar narrativas simplistas e identificar vieses e manipulações. Isso torna a população menos suscetível às investidas dos extremistas, que muitas vezes se baseiam em informações distorcidas e teorias da conspiração.
O Instituto Aurora atua na promoção e defesa da Educação em Direitos Humanos. Conheça o projeto “(Re)conectar”, de prevenção a discursos de ódio e extremismos na escola.
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