O Dia Internacional da Mulher tem origem no final do século XIX e diferente de diversas datas comemorativas, o dia 8 de março não é uma data meramente comercial, mas tem raízes históricas profundas que marcaram o passado e continuam presentes. 

Por Michely Biscaia, para o Instituto Aurora

(Foto: Franciele Correa)

Em 1975, a ONU oficializou o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher. A celebração, no entanto, teve início muito antes desta data. O dia da mulher é marcado na virada do século XIX para o século XX e surge de um conjunto de movimentos por melhores condições de trabalho para as mulheres e contra o trabalho infantil.

Nas fábricas, as mulheres eram submetidas a jornadas de trabalho extenuantes e a péssimas condições de trabalho. A jornada chegava a 16 horas diárias e o salário correspondia a 1/3 do valor recebido pelos trabalhadores homens. Além disso, não havia leis contra o trabalho infantil, nem creches, e as crianças eram exploradas nas fábricas juntamente com suas mães. 

A origem da data é também atrelada a homenagem realizada às mais de cem mulheres que morreram vítimas de um incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist Company, em Nova York, no dia 25 de março de 1911. 

Outro movimento importante que remete ao dia da mulher é a manifestação das mulheres russas contra a fome, que ocorreu em 1917, em um movimento que foi o pontapé inicial à revolução russa.

Importância do Dia Internacional da Mulher nos dias de hoje

Quando olhamos para esses fatos históricos, o Dia Internacional da Mulher toma a importância que lhe é devida, pois os problemas que o originaram continuam presentes na sociedade atual, e tem suas raízes fincadas na desigualdade de gênero.

Não é demais lembrar que as mulheres, ainda hoje, recebem salários menores que os dos homens e que são as principais (muitas vezes únicas) responsáveis pelo trabalho doméstico e pela educação das crianças. Além disso, as mulheres continuam sendo as principais vítimas de violência doméstica. 

A data, portanto, deve nos lembrar que ainda há muito o que ser feito para proteger as mulheres e eliminar a desigualdade de gênero. Flores, adornos e chocolates não são suficientes. Os problemas são graves e urgentes. 

Desigualdade de gênero e violência doméstica: eu já sofri violência de gênero? 

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2020, o Brasil contabilizou 1.350 casos de feminicídio – um a cada 6 horas e meia. Esses homicídios, em sua maioria, foram praticados por companheiros, ex-companheiros ou pretensos companheiros das vítimas. A violência que causa a morte das mulheres é certamente a mais grave, mas ela não é a única. 

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha aponta que, em 2021, 24,4% (uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos) foram vítimas de algum tipo de violência – psicológica, sexual, moral e patrimonial. Uma pesquisa do Ipec – Inteligência em Pesquisa e Consultoria revela que a cada minuto, 25 brasileiras sofrem algum tipo de  violência doméstica. 

Este cenário indica a necessidade da ampliação e da aplicação de políticas públicas no combate a violência contra a mulher e a desigualdade de gênero. 

O sistema patriarcal machista favorece o cenário da violência por minimizar os atos do agressor e levar as meninas a acreditarem que comportamentos inaceitáveis, pois criminosos, imorais, são “coisa de homem”. Do mesmo modo, os delitos são aceitos no universo masculino. Culturalmente, a imagem do “machão” ainda é reforçada nos meninos. 

As mulheres acabam sendo mantidas reféns da violência, pela inefetividade das políticas públicas. A educação é uma importante ferramenta para ensinar as meninas a identificar e nomear os diversos tipos de violência, que não se resumem na violência física. A violência tem diversas facetas. As agressões são perversas e complexas e não ocorrem de forma isolada, causando graves consequências às vítimas. 

Há diversos avanços de leis sobre o tema, mas é preciso difundi-los, para que os direitos até aqui conquistados alcancem todas as mulheres. 

A Lei 14.164/2021 e o papel das escolas no combate a violência contra a mulher 

Em 2021, foi aprovada a Lei 14.164 que criou a Semana Escolar do Combate a Violência Contra a Mulher. A lei propõe que a primeira semana de março seja destinada ao tema, em compasso com o Dia Internacional da Mulher, e sua aplicação deve se dar nas escolas públicas e nas particulares. 

O objetivo da lei é prevenir a violência contra mulher por meio da difusão de uma ferramenta importante – o conhecimento. Dentre os objetivos da lei estão: 

  • a contribuição para o conhecimento da Lei Maria da Penha; 
  • a difusão do conhecimento sobre os mecanismos de assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar, seus instrumentos protetivos e os meios para o registro de denúncias;
  • a capacitação dos educadores e a conscientização da comunidade sobre a violência nas relações afetivas; 
  • a promoção da igualdade de gênero, como forma de combater a violência. 

A nova lei atende um comando contido na Lei Maria da Penha (11.340/2006) de promoção de programas educacionais para disseminar valores éticos, respeito à dignidade da pessoa humana, a igualdade de gênero, de raça ou etnia e a conscientização da violência doméstica contra a mulher, como forma, notadamente, de combatê-la.

A lei também corrobora para o cumprimento das metas do Brasil na ODS 5 – Igualdade de Gênero.

>> Leia mais sobre este ODS no artigo “ODS 5: por que a igualdade de gênero é essencial para o cumprimento de toda a Agenda 2030”

A Semana Escolar do Combate a Violência Contra a Mulher é uma conquista, um avanço e uma oportunidade de salvar vidas de mulheres através do conhecimento. 

É importante que as gerações atuais conheçam que graças às lutas travadas por mulheres foram conquistados diversos direitos, dentre eles o direito ao voto, o direito de divorciar-se e de denunciar o agressor. É por meio do conhecimento que teremos uma geração de mulheres mais livres.

O Dia Internacional da Mulher deve ser comemorado com essa consciência, que devemos honrar as mulheres que lutaram pelos direitos que temos hoje e que nós temos o dever de lutar por direitos que ainda precisam ser conquistados para as gerações atuais e futuras.

O Instituto Aurora está comprometido com ações que buscam a igualdade de gênero. Você pode saber mais sobre a nossa visão em “Nossas frentes”.

Leia mais:

>> O que são os 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres

>> Por que apoiar a pauta de gênero nas escolas?

>> Lei Maria da Penha completa 15 anos com conquistas e desafios

>> Filmes para iniciar o diálogo contra a violência à mulher no trabalho

Algumas referências que usamos neste artigo:

Com isolamento social, Brasil registra um feminicídio a cada 6 horas e meia | CNN Brasil

A cada minuto, 25 brasileiras sofrem violência doméstica | Revista Piauí

Dia Internacional da Mulher – entenda mais sobre essa data | Unifesp

Dia Internacional da Mulher: a origem operária do 8 de Março | BBC News

Dia Internacional da Mulher: Porque é que ainda se celebra este dia? | Nações Unidas

Sancionada lei que cria semana escolar para debater violência contra as mulheres | Câmara dos Deputados

ODS 5 – Igualdade de gênero | Ipea

Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
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Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
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A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
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Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
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Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
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Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
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Minha empresa quer doar

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    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
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