Políticas públicas fazem parte dos deveres previstos na Constituição Federal, sendo responsabilidade do Poder Público em colaboração com a sociedade civil e organizações sociais.

Por Mariana Coelho Prado, para o Instituto Aurora

(Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil)

O Instituto Aurora tem como missão a educação em direitos humanos, ampliando a compreensão do tema e promovendo diálogos para o reconhecimento das diferenças e a construção da paz. Neste artigo, vamos abordar a questão: O que são políticas públicas e qual a relação delas com educação em direitos humanos?

“O fim último da política pública nada mais é do que a concretização dos Direitos Humanos, garantindo a efetivação de direitos individuais e coletivos, com vistas à emancipação política e econômica dos indivíduos, na perspectiva do desenvolvimento social”.

Tatyana Scheila Friedrich e Nelton Miguel Friedrich, no artigo “POLÍTICAS PÚBLICAS, DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA EM RELAÇÃO À ÁGUA: o caso do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional”.

Publicado em 14/06/2023.

O que são políticas públicas?

Conforme artigo 3º Constituição Federal Brasileira (CRFB/88), um dos objetivos de um Estado Democrático de Direito é a formulação de políticas públicas que tenham como guia os princípios da república de erradicar a pobreza e construir uma sociedade igualitária.  Ou seja, entende-se que a construção das políticas públicas parte do dever constitucional e tem como agentes o Poder Público em colaboração com a sociedade civil e organizações sociais. 

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Para entender melhor a organização dos poderes em uma república federativa e como os três poderes contribuem para o ciclo de políticas públicas, percebemos que o Poder Legislativo define as políticas públicas, e o Poder Executivo as executa.

É preciso entender que as políticas públicas possuem, assim, atores estatais e não estatais, ou seja, privados. Enquanto os primeiros são aqueles que exercem funções públicas do Estado, os segundos não possuem vínculo direto com o Estado, mas fornecem demandas a ele. Ressaltamos, nesse artigo, que a função do Poder Judiciário nesse ciclo é a de controlar as leis e políticas criadas a fim de garantir que o seu objetivo seja cumprido. 

Cabe dizer que, para além da construção formal das políticas públicas, é importante observar que a formulação delas, respeitando o ciclo da política pública (planejamento, formulação, implementação e avaliação), parte de demandas e propostas da sociedade. Considerando isso, é muito importante que as políticas públicas prevejam mecanismos de participação popular, dentre eles conselhos participativos e deliberativos, como exemplo. 

Participação social nas políticas públicas 

Um exemplo de política pública ou de iniciativa pensada para garantir a participação da população em situação de rua em políticas que interessem esse público, bem como entidades e instituições que defendem essa causa, é a instauração do Comitê Pop Rua. Este comitê une sociedade civil e secretarias de governo para debater pautas e tecer encaminhamentos que interessem aos movimentos sociais e aos defensores dessa temática.

As políticas públicas precisam garantir o princípio democrático, já que afetam a todos os cidadãos e cidadãs, independentemente de raça, escolaridade, gênero e religião. Elas também estão diretamente relacionadas a efetivação do artigo 6º da CRFB/88 e do não retrocesso social de temáticas relacionadas a direitos como saúde, educação, moradia, meio ambiente, assistência social, lazer, esporte, segurança. 

Além disso, a participação social é essencial à implementação de políticas públicas e, portanto, implica entender a coexistência de múltiplas variáveis e atores no processo que contempla planejar e priorizar determinada política pública, formulá-la, implementá-la e avaliá-la.

Definir participação social implica entender as múltiplas ações que diferentes forças sociais desenvolvem com o objetivo de “influenciar a formação, execução, fiscalização e avaliação de políticas públicas na área social (saúde, educação, habitação, transporte, etc.)”. Tais ações expressam, simultaneamente, concepções particulares “da realidade social brasileira e propostas específicas para enfrentar os problemas da pobreza e exploração das classes trabalhadoras no Brasil” (Valla e Stotz, 1989, p. 6).

É extremamente necessário que as políticas públicas tenham como foco a garantia de direitos previstos constitucionalmente e em outras leis. Os princípios norteadores de tais finalidades são o princípio da dignidade humana, isonomia, e interesse público. Sendo assim, pensar em garantir a participação social e popular para o processo de elaboração e efetivação das políticas públicas contribui para a construção da democracia, o fortalecimento da cidadania e a melhoria do desempenho da Administração Pública. 

Tipos e exemplos de políticas públicas

Vale salientar que, conforme a literatura referente ao ciclo de políticas públicas, elas se dividem em:

  • a) políticas regulatórias,
  • b) políticas distributivas,
  • c) políticas redistributivas, e
  • d) políticas consultivas. 

São elas, respectivamente políticas públicas que envolvem burocracia estatal, políticos e grupos de interesse, por exemplo regras para publicar certos produtos; políticas que buscam beneficiar parcela da sociedade, em detrimento da sociedade como um todo, tendo como exemplo a gratuidade no transporte público; políticas que aloquem determinados bens e serviços a segmentos específicos da sociedade, como no caso da reforma agrária; e políticas que estabelecem normas e procedimentos a partir das quais devem ser formuladas e implementadas outras políticas, como, por exemplo, as regras de participação da sociedade civil nas decisões políticas.

Portanto, considerando tudo que foi visto até aqui, entendemos que as políticas públicas são extremamente necessárias para garantir a efetivação do acesso aos direitos mais básicos e fundamentalmente a direitos sociais que são privilégios para determinada parcela da sociedade, e não deveriam ser.

Através do trabalho em rede e da interlocução entre os atores que representam sociedade civil, movimentos sociais e Poder Público, as políticas públicas podem trazer ganhos históricos para a sociedade. Como iniciativas importantes nesse campo, vale mencionar que existem portais e revistas dedicadas a escrever e publicar sobre temáticas relacionadas a políticas públicas, bem como especializações e cursos de formação, citando como exemplo o NEXO Políticas Públicas. 

Como a educação em direitos humanos contribui para a elaboração de políticas públicas 

A educação em direitos humanos precisa estar presente nas escolas e organizações da sociedade civil, ser debatida além do cotidiano dos atores sociais, e por isso que ela está em tudo que o Instituto Aurora faz. Queremos dar alguns exemplos concretos de como desenvolvemos a educação em direitos humanos em nossa atuação.

Entendemos que as desigualdades também agem em outras áreas, afetando o senso de valor e de pertencimento das pessoas. E mesmo as mais antigas democracias ainda enfrentam obstáculos como racismo, homofobia, transfobia e intolerância religiosa.

Em projetos como “Novas Lentes, Novas Mentes”, conversamos com o público adolescente sobre direitos humanos e o que eles têm a ver com a sua vida. Já quando conversamos com populações vulneráveis, o objetivo é contribuir para que estas pessoas se vejam como sujeitos de direitos.

Além disso, o projeto “Meu, Seu, Nosso Voto” tem como público-alvo jovens, inclusive que estão votando pela primeira vez. Ao conversar sobre política e como ela está relacionada ao cotidiano de nossas vidas, aproximamos as pessoas deste tema e estimulamos uma maior participação social.

Por isso, com a educação em direitos humanos, podemos contribuir para a formação de uma cidadania ativa e crítica, em que as pessoas percebam as consequências individuais e também sociais de cada escolha, com um senso de responsabilidade. Podemos propiciar o desenvolvimento de sentimentos e atitudes de cooperação e solidariedade, trazendo um entendimento de que todas e todos somos sujeitos de deveres e de direitos. 

Na pesquisa “Panorama da Educação em Direitos Humanos no Brasil: órgãos, políticas e ações”, o Instituto Aurora entrevistou responsáveis pela EDH em órgãos dos estados brasileiros. Um dos pontos foi entender se existem políticas ou ações específicas de EDH nos estados, e também quais documentos orientam essas políticas.

Na nossa comunicação, seja com os artigos do blog, em textos para outros veículos ou em publicações nas nossas redes sociais, buscamos trazer conceitos e informações sobre direitos humanos, para que mais pessoas tenham este conhecimento.

Se você também quer fazer parte deste movimento, confira os diversos modos em que pode estar com a gente na seção “Faça Parte” aqui do site!

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Algumas referências que usamos neste artigo:

BRASIL. [Constituição (1988)].

Tipologia de Políticas Públicas. Escola Superior de Gestão e Contas Públicas.

Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
Liberdade de pensamento: você tem?
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Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
Formações customizadas
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Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
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Minha empresa quer doar

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    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
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