O Pacto Global tem sido responsável pela maior iniciativa de sustentabilidade corporativa existente no mundo hoje, contando com mais de 16 mil membros, entre empresas e organizações, distribuídos em 160 países. Mas afinal, o que é o Pacto Global e qual seu efeito para o desenvolvimento dos Direitos Humanos?
Por Gabriela de Lucca, para o Instituto Aurora
(Imagem: Artem Podrez / Pexels)
Levando em conta o importante papel das empresas nas questões econômicas, sociais e políticas em todo o mundo, a Organização das Nações Unidas (ONU), no ano 2000, observou a necessidade de incluir a iniciativa privada em suas estratégias para enfrentamento dos desafios atuais da sociedade, especialmente relacionados à proteção dos Direitos Humanos, preservação do meio ambiente, proteção ao trabalho e combate à corrupção.
Com isso em mente, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, lançou o Pacto Global, com a finalidade de disseminar boas práticas empresariais, incentivar a cidadania e exaltar valores morais de solidariedade, equidade e confiança. Com isso, abriu-se as portas para o ingresso de empresas, organizações da sociedade civil, associações empresariais, organizações trabalhistas, instituições acadêmicas e até mesmo cidades nesse projeto.
Vale ressaltar que o Pacto Global não é um instrumento regulatório ou sancionatório (que possa implicar punições), mas sim uma diretriz de participação voluntária voltada ao desenvolvimento econômico sustentável, comprometimento com a responsabilidade social e à observância de princípios universais caros aos Direitos Humanos.
O que vamos abordar neste artigo:
- Os 10 princípios universais norteadores do Pacto Global
- O Pacto Global como instrumento de alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
- Rede Brasil do Pacto Global
- Sustentabilidade corporativa
Publicado em 28/04/2021.
Os 10 princípios universais norteadores do Pacto Global
Ao lançar o Pacto Global, a ONU reuniu 10 princípios universais a serem observados pelas empresas e organizações que decidam fazer parte desse projeto. Tais princípios estão distribuídos em quatro grandes áreas: Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção.
No que diz respeito aos Direitos Humanos, o Pacto Global estabelece que as empresas deverão apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecidos internacionalmente (princípio 1) e assegurar-se da não participação em qualquer forma de violação desses direitos (princípio 2).
Já com relação ao Trabalho, entende-se que as empresas deverão manter a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva (princípio 3); deverão eliminar toda forma de trabalho forçado ou compulsório (princípio 4); deverão abolir efetivamente o trabalho infantil (princípio 5); e, por fim, deverão eliminar a discriminação em matéria de emprego e ocupação (princípio 6).
Quanto ao Meio Ambiente, propõe-se que as empresas se comprometam em: adotar uma abordagem preventiva acerca dos desafios ambientais (princípio 7); empreender iniciativas para promover uma maior responsabilidade ambiental (princípio 8); e incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ecológicas (princípio 9).
Por fim, determina que as empresas e organizações deverão trabalhar contra a corrupção em todas as suas formas, especialmente no que se refere à extorsão e ao suborno (princípio 10).
Destaca-se que esses princípios foram retirados de documentos internacionais importantes, já encampados por diversos países, como por exemplo: a Declaração Universal de Direitos Humanos; a Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho; a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e a Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção.
Isso acaba por tornar mais concreta a observância dos princípios universais tanto por instituições privadas, quanto públicas apoiadoras do Pacto Global.
O Pacto Global como instrumento de alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Conforme dissemos acima, há algum tempo a ONU tem verificado a necessidade de integrar o setor privado em estratégias que buscam o enfrentamento de desafios importantes que ainda assolam nossa sociedade, sendo, por esse motivo, lançado o Pacto Global.
Em 2015, no entanto, a ONU deu mais um passo rumo a esse objetivo, buscando o engajamento de empresas, instituições e organizações para uma nova agenda de desenvolvimento sustentável.
A Agenda 2030, como ficou conhecida, estabelece 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem alcançados até 2030. Trata-se de um esforço conjunto de países, empresas, instituições e sociedade civil para assegurar os direitos humanos, acabar com a pobreza, lutar contra a desigualdade, alcançar a igualdade de gênero, agir contra as mudanças climáticas, entre outros desafios de nossos tempos.
Com o poderio econômico, tecnológico e social do setor privado, espera-se acelerar o alcance dos ODS e incentivar de maneira global ações em prol dos Direitos Humanos e desenvolvimento sustentável, criando, assim, mudanças estruturais na forma empresarial de lidar com o lucro, concorrência e consumo.
Por aqui, no Instituto Aurora, estamos comprometidas com quatro desses 17 ODS. São eles: ODS 4, que preza pela educação de qualidade; ODS 5, que busca alcançar a igualdade de gênero; ODS 10, que propõe metas para a redução das desigualdades; e o ODS 16, que objetiva o fortalecimento de instituições eficazes, da cultura de paz e de justiça.
Rede Brasil do Pacto Global
Atualmente cerca de 1.190 empresas e instituições brasileiras estão inscritas no Pacto Global e comprometidas com os princípios e objetivos acima mencionados.
Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, afirmou em entrevista à InfoMoney que todas as ações realizadas pelas empresas e instituições participantes têm como objetivo o alcance dos ODS. De acordo com ele, a Rede Brasil tem plataformas de ação pelos direitos humanos, que incluem discussões sobre igualdade de gênero, migrantes e refugiados, direitos das pessoas LGBT, povos indígenas, pessoas com deficiência, enfrentamento ao racismo e ao trabalho forçado.
Especialmente no que se relaciona aos refugiados, recentemente a Rede Brasil em parceria com a ACNUR lançaram a Plataforma Refugiados Empreendedores, com o objetivo de dar maior visibilidade aos empresários refugiados e fortalecer seus negócios.
Sustentabilidade corporativa
A participação ativa da Rede Brasil no contexto da pandemia tem sido importante e servido de incentivo para o ingresso de mais de 250 novas empresas brasileiras ao Pacto Global no ano de 2020, como afirma o próprio diretor-executivo, Carlo Pereira, em entrevista à InfoMoney.
Segundo ele, a sustentabilidade corporativa é um caminho sem volta. De fato, a discussão acerca da necessidade de mudança envolvendo o setor privado e a importância conferida à sua função social tem ganhado cada vez mais espaço na agenda nacional e internacional, o que reflete em um maior engajamento para questões essenciais de Direitos Humanos em geral e para o enfrentamento de problemas sociais ainda presentes por nossa sociedade.
Como já falamos, o Instituto Aurora, assim como diversas outras entidades brasileiras, está comprometido com a Agenda 2030. Quer saber como o nosso trabalho com educação em direitos humanos contribui para o alcance dos ODS? Navegue pela seção Quem Somos aqui do nosso site!
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Algumas referências que usamos neste artigo:
https://www.pactoglobal.org.br/
https://news.un.org/pt/tags/pacto-global
https://www.creditodelogisticareversa.com.br/materiais-educativos-gratuitos
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/iuris/article/view/23507