“Nós & Eles”, de Bahiyyih Nakhjavani, foi a obra escolhida como leitura coletiva organizada pelo Instituto Aurora no mês de junho de 2021. A partir do livro pudemos refletir sobre várias questões, especialmente sobre migrações, assunto presente na vida de personagens principais e secundárias.

Foto e texto por Mayumi Maciel, para o Instituto Aurora

“Nós & Eles”, de Bahiyyih Nakhjavani fala sobre a diáspora iraniana, permeada na história de três gerações de mulheres de uma mesma família. A mais velha é Bibi, que ficou anos sem sair do Irã, mesmo com suas filhas morando fora do país. Finalmente, ela é convencida a viajar para os Estados Unidos, para as festividades de ano novo.

Golli é a filha de Bibi que mora lá, casada e com dois filhos. Já Lili é uma artista que vive na França. Há ainda a presença de Fathi, que temos a impressão de ser uma filha do marido falecido de Bibi com outra mulher, e que é quem de fato cuida dela.

Por fim, conhecemos também Delli, filha de Golli e que acaba aparecendo de forma maior na narrativa ao final do livro.

Atualizado em 05/10/2023. Publicado em 25/06/2021.

A primeira pessoa do plural

Em “Nós & Eles”, os capítulos que narram as situações vividas por essas mulheres da mesma família são intercalados com capítulos do ponto de vista de outros iranianos e iranianas da diáspora. Esses capítulos são escritos na primeira pessoa do plural (nós), e sempre tratam de assuntos que conversam com os acontecimentos vivenciados pelas protagonistas.

Um dos motivos desse uso da primeira pessoa do plural é explicado logo no primeiro capítulo, em que se fala sobre o desejo de escrever um livro que mostre o “nós” real, múltiplo dos iranianos.

“[…] Além disso, mulher ou não, a autora teria que usar a primeira pessoa do plural no tal livro, e isso posaria um véu sobre a questão. A primeira pessoa do plural é obrigatória em tais situações. Nós usamos esse ponto de vista em persa para mostrar nossa modéstia, para demonstrar a nossa humildade. Às vezes, é preciso admitir, também a usamos para escapar de responsabilidades. Mas isso é outro assunto. A questão é que o apagamento do eu é tão vital para a sintaxe persa quanto é para nossa identidade.”

A partir disso, podemos pensar na questão da identidade nacional, daquilo com que os iranianos se relacionam, estando em seu país ou não. Também podemos refletir sobre como diferentes migrantes podem passar por situações semelhantes, ou ainda sobre como a vida de cada pessoa tem reflexos no coletivo.

A questão da migração em “Nós & Eles”

O tema da migração é o que aparece com mais destaque na narrativa de “Nós & Eles”. Primeiro, pelas situações vividas pelas personagens principais. Lili e Golli já moram fora do Irã há muito tempo. E agora, também tem a questão da mãe delas.

Nos outros capítulos, aqueles narrados em primeira pessoa do plural, os personagens passam por situações similares, e também são migrantes. Aparecem constantemente lembranças sobre o Irã e comparações com a cultura e costumes de outros países, especialmente na Europa e na América do Norte.

De acordo com o Migration Policy Institute, é difícil ter dados precisos sobre os números da diáspora iraniana, mas estima-se que entre 2 e 4 milhões de iranianos vivam hoje em outros países. Uma grande parte migrou após a Revolução Iraniana, em 1979.

O que “Nós & Eles” tem a ver com Direitos Humanos?

Como mencionamos, o principal aspecto abordado no livro é a questão da migração. Esse tema está presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos, como podemos ver, especialmente, nos seguintes artigos:

Artigo XIII
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.


Artigo XIV
1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

No decorrer de “Nós & Eles”, algumas questões que aparecem nos capítulos são:

  • Sentimentos em relação aos acontecimentos no país de origem
  • Dificuldade em passar pela imigração no aeroporto
  • Criação de uma associação cultural para valorizar a arte do país de origem
  • Estereótipos sobre pessoas de outras nacionalidades
  • Choques culturais e diferenças culturais
  • Casamentos e divórcios
  • Vida e morte

Dessa forma, podemos ver que há uma presença grande de temas ligados à migração, e também de temas mais “universais”, que fazem parte da vida de todas as pessoas.

Sobre as leituras coletivas promovidas pelo Instituto Aurora

Durante todos os meses do ano de 2021, o Instituto Aurora realizou uma votação aberta no nosso perfil do Instagram, para escolha da leitura coletiva do mês seguinte. Ao final do mês, também publicamos em nosso blog uma resenha como esta, em que falamos um pouco sobre a obra, os assuntos que ela apresenta e sua relação com Direitos Humanos.

Essa atividade fez parte de nosso Clube de Assinatura, em que uma das recompensas disponíveis era um Guia de Leitura, no qual nossa equipe apresentava comentários e perguntas para reflexão a partir do livro do mês, e também havia um grupo exclusivo no Telegram, onde conversamos sobre a obra e outros assuntos.

O Clube de Assinatura foi descontinuado em 2022, mas temos informações sobre ele e outros projetos do Instituto Aurora em nosso Portfólio.

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Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
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Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
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A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
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Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
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Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
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Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
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Minha empresa quer doar

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    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
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