Em alusão ao Dia Nacional do Idoso e Dia Internacional da Terceira Idade, comemorado no dia 01 de Outubro, buscamos refletir sobre expectativa de vida x desigualdade social no Brasil, tendo em vista o cenário pandêmico, o índice de miséria e a crise sanitária enfrentada atualmente no país.

Por Vivianne Sousa, para o Instituto Aurora

(Foto: Italo Melo / Pexels)

No dia 01 de Outubro é comemorado o Dia Nacional do Idoso e Dia Internacional da Terceira Idade. Nesse sentido, este artigo busca refletir sobre o cenário em que estamos situados no Brasil. 

De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde – Ministério da Saúde, estamos chegando ao maior índice de populações idosas em todos os lugares. A proporção mundial de pessoas com 60 anos ou mais deve triplicar, alcançando cerca de dois bilhões em 2050.

Diante deste contexto, faz-se necessária a discussão e reflexão sobre as desigualdades sociais que surgem nestas populações e que atingem diretamente as suas rotinas e a qualidade de suas vidas. A Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) reconhecem que o desenvolvimento só será possível se for inclusivo para todas as idades.

Quando falamos da população brasileira, os idosos representam 14,3% da população, ou seja, 29,3 milhões de pessoas. Em 2030, o número de idosos deve superar o de crianças e adolescentes de zero a quatorze anos. Em sete décadas, a média de vida do brasileiro aumentou 30 anos, saindo de 45,4 anos em 1940, para 75,4 anos em 2015.

Tópicos deste artigo:

Publicado em 01/10/2021.

O momento atual e a desigualdade

É urgente a necessidade de debater elementos fundamentais para esta análise. Um deles é a desigualdade social em um país em sua maior crise sanitária da história, que influencia diretamente na qualidade e expectativa de vida dos seus habitantes.

Reforçamos que estamos vivendo em pleno estado de insegurança alimentar e o “índice de miséria” no Brasil atingiu 23,47 pontos em maio, segundo dado mais recente. Este é o maior valor desde o início da série histórica, em março de 2012, de acordo com o IBGE. 

O que esse recorde negativo significa? Um momento marcado por aceleração da inflação, aumento do desemprego e do custo de vida e queda da renda. Esses elementos influenciam diretamente na condição de vida dos brasileiros e consequentemente em quem chegará a ser idoso no nosso país.

De acordo com dados da Pnad Covid-19, os trabalhadores mais pobres foram aqueles que tiveram menos oportunidade de alterar o local de trabalho durante a pandemia, assim como os menos escolarizados. Sem alternativa a não ser sair de casa para trabalhar, e muitas vezes vivendo em moradias com várias pessoas dividindo o mesmo cômodo, essa população ficou mais exposta ao vírus.

Consequentemente, populações mais pobres morrem de Covid-19 em proporção maior do que populações mais ricas. Um exemplo disso é um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2020, que revelou que 79,6% das mortes por Covid-19 registradas na cidade do Rio de Janeiro ocorreram nas áreas mais pobres.

Quem vive mais e quem vive menos?

De acordo com o IBGE, a expectativa de vida dos brasileiros aumentou 3 meses e chegou a 76,6 anos em 2019, sendo que as mulheres vivem mais que os homens. Os homens, em média, chegam a 73,1 anos e as mulheres, a 80,1 anos, sendo esta longevidade de 7 anos de diferença.

Já quando analisamos o território, as maiores expectativas de longevidade de vida se localizam no sul e sudeste do país.

Os efeitos do racismo, machismo e transfobia

Como podemos perceber, as mulheres têm maior expectativa de vida do que os homens. Contudo, queremos destacar elementos estruturais que influenciam diretamente nas taxas de mortalidade. Por exemplo, o racismo estrutural que mata negros diariamente no Brasil, assim como o machismo que é responsável para as altas taxas de feminicídio e a transfobia que faz com que o Brasil seja o país que mais mata pessoas trans no mundo. 

Apresentamos alguns dados que confirmam essas questões:

  • De acordo com o Atlas da Violência 2020, os casos de homicídio de pessoas negras (pretas e pardas) aumentaram 11,5% em uma década. O destaque é que no mesmo período avaliado, entre 2008 e 2018, a taxa entre não negros (brancos, amarelos e indígenas) fez o caminho inverso, apresentando queda de 12,9%.
  • Para a Agência Brasil,  outro número que valida a afirmação em torno do racismo diz respeito aos homicídios de mulheres. Na década pesquisada, constatou-se uma redução de 11,7% na taxa de vítimas não negras, ao mesmo tempo em que a taxa relativa a negras subiu 12,4%. É evidente que as mulheres negras estão no alvo das violências cometidas diariamente no Brasil.
  • De acordo com o IPEA – Atlas da Violência, em 2019, 66% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras. Em termos relativos, enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras foi de 2,5, a mesma taxa para as mulheres negras foi de 4,1. Isso quer dizer que o risco relativo de uma mulher negra ser vítima de homicídio é 1,7 vezes maior do que o de uma mulher não negra. Ou seja, para cada mulher não negra morta, morrem 1,7 mulheres negras.
  • De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), a estimativa média de vida de uma pessoas trans é de 35 anos. Ou seja, menos da metade da média nacional. Em 2020 a ANTRA também registrou um número recorde de assassinatos contra travestis e mulheres trans, com um total de 175 casos.

Como mudar esse cenário?

O Brasil foi um dos signatários do acordo que deu origem à Agenda 2030 da ONU. Por isso, destacamos aqui o 10º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, cujo propósito é “reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles”.

Uma das metas do ODS é “até 2030, empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra.”

Para mudar o cenário atual, em que algumas populações têm uma expectativa de vida maior do que as outras, é preciso estabelecer, criar e fomentar políticas que diminuam as desigualdades sociais existentes historicamente. Essas desigualdades se agravam no decorrer dos anos a partir de fatores como o desemprego, racismo, pandemia, violência e outros elementos que atuam diretamente na sociedade. 

Por isso, é necessário que existam políticas que estabeleçam linhas de distribuição de renda, educação de qualidade, garantia de emprego, saúde e todos os direitos humanos. Além de assegurar uma melhora na expectativa de vida da população como um todo, também é preciso garantir o direito de envelhecer com dignidade.

Acompanhe o Instituto Aurora nas redes sociais: Instagram | Facebook | Linkedin | Youtube

Algumas referências que usamos neste artigo:

01/10 – Dia Nacional do Idoso e Dia Internacional da Terceira Idade: “A jornada para a igualdade”

Atlas da Violência: assassinatos de negros crescem 11,5% em 10 anos

Índice de miséria no Brasil é recorde, puxado por inflação e desemprego

Atlas da violência 2021

BOLETIM Nº 002-2021 DA ANTRA

Atrás de renda e sem home office, pobres morrem mais de Covid

Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
Minha empresa quer doar

    Minha empresa quer doar
    [caldera_form id="CF5f3eb06356163"]
    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.