Os filmes do Oscar 2025 apresentam temas que estão ligados a debates relacionados a Direitos Humanos. Neste artigo, abordamos alguns filmes que podem despertar reflexões e diálogos sobre assuntos atuais.

Por Gabriela Esmeraldino, para o Instituto Aurora

No dia 2 de março de 2025, domingo de Carnaval no Brasil, foi ao ar a 97ª edição do Oscar, a premiação mais aguardada do audiovisual. 

Nos anos de 2021 e 2022, trouxemos análises da premiação e ideias de como abordar a Educação em Direitos Humanos e os Direitos Humanos não apenas a partir dos filmes indicados, mas também do próprio funcionamento da Academia e seus critérios de escolha.

No texto de 2022, falamos sobre os discursos políticos muitas vezes vazios do Oscar, que não se refletem em mudanças estruturais dentro da indústria cinematográfica. Essa crítica tem se intensificado nos últimos anos, especialmente quando analisamos as estatísticas de representatividade na premiação.

Em 2020, a Academia anunciou novos parâmetros para a seleção de filmes indicados, introduzindo critérios mínimos de inclusão e diversidade no elenco, na equipe técnica e na gestão administrativa. Esses critérios foram divididos em quatro padrões. 

  • Padrão A: exige que um personagem significativo pertença a um grupo minoritário ou que pelo menos 30% do elenco seja composto por pessoas de grupos sub-representados. 
  • Padrão B: foca na equipe técnica, exigindo que 30% das posições sejam ocupadas por pessoas de grupos minoritários.
  • Padrão C: exige a oferta de estágios ou programas de aprendizagem remunerada para pessoas de grupos sub-representados pelas empresas de produção, distribuição ou financiamento. 
  • Padrão D: requer a presença de executivos sêniores de grupos sub-representados nas equipes de marketing, publicidade ou distribuição. 

Embora anunciados em 2020, esses critérios entraram em vigor apenas na premiação de 2024, que bateu recordes de representatividade e inclusão. Em 2025, essa tendência se consolidou, refletindo-se na diversidade dos filmes independentes indicados e vencedores: Anora, Flow, No other land e Ainda estou aqui, esse último um marco histórico para o cinema brasileiro. O gênero terror também ganhou espaço, com indicações para A substância, Nosferatu, A garota da agulha e Alien: Romulus

Para nós, da Educação em Direitos Humanos, a diversidade midiática é fundamental. Representatividade no cinema, em elenco e equipe técnica, abre espaço para narrativas mais plurais, permitindo que estudantes reconheçam diferentes experiências e formas de existir para além das normas sociais hegemônicas. Além disso, o Oscar dita as tendências do cinema mundial. 

Tópicos deste artigo:

Publicado em 26/03/2025.

A temática social do Oscar 2025

Normalmente, a premiação enfatiza alguma temática social específica. Neste ano, o protagonismo feminino permaneceu forte com filmes como: 

  • Anora, protagonizado por uma imigrante que trabalha como stripper;
  • Ainda estou aqui, sobre a vida da advogada e ativista de Direitos Humanos, Eunice Paiva;
  • Emília Perez: centrado na história de uma mulher trans e outras protagonistas;
  • Wicked: uma releitura de O Mágico de Oz com duas protagonistas mulheres; 
  • A Substância: uma crítica ao tratamento dado às mulheres que envelhecem na indústria cinematográfica. 
  • The only girl in the orchestra: documentário sobre a primeira mulher na Filarmônica de Nova Iorque;
  • A Garota da Agulha: abordando os horrores vividos por mulheres após a Primeira Guerra Mundial. 

Alguns dos vencedores do Oscar 2025

A edição de 2025 demonstrou avanços significativos em diversidade e representatividade, mas também levantou grandes polêmicas relacionadas à representatividade e ao discurso de ódio.

Cena do filme Anora, premiado no Oscar 2025

Melhor filme – Anora

Dirigido por Sean Baker (que também levou a estatueta de melhor direção), Anora explora o clichê de Uma linda mulher e a narrativa da Cinderela. A protagonista, interpretada por Mikey Madison, é uma imigrante que trabalha como stripper até começar a sair com um cliente e iniciar uma história de amor que resulta em casamento que se transforma em um ciclo de poder e violência. O filme foi elogiado por sua abordagem crítica às dinâmicas de classe e gênero, mas também foi criticado por piadas que normalizam a violência de gênero.

Cena do filme Anora, premiado no Oscar 2025

Melhor atriz – Mikey Madison (Anora)

Madison venceu concorrendo contra Demi Moore (A Substância), Fernanda Torres (Ainda estou aqui), Karla Sofía Gascon (Emília Perez, primeira mulher trans a concorrer na categoria) e Cynthia Erivo (Wicked). A vitória levantou discussões sobre como Hollywood trata o envelhecimento das atrizes, temática central do filme A Substância. 

Cena do filme Ainda estou aqui, premiado no Oscar 2025

Melhor filme internacional – Ainda estou aqui (Brasil)

Dirigido por Walter Salles, o filme retrata a luta de Eunice Paiva, advogada e ativista em Direitos Humanos, para obter a certidão de óbito de seu marido, Rubens Paiva, desaparecido na Ditadura Militar. No discurso, Walter Salles dedicou o prêmio à Eunice Paiva, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, que interpretam Eunice. Um momento histórico e emocionante para o cinema brasileiro, já que Fernanda Montenegro concorreu como melhor atriz em 1999, a primeira mulher brasileira na premiação, e não venceu. Além de ser um filme brasileiro, o filme tem muito conteúdo de Direitos Humanos e história do Brasil e vamos reservar um texto exclusivo para análise do filme e do impacto da indicação para a premiação. 

Cena do filme O Brutalista, premiado no Oscar 2025

Melhor ator – Adrien Brody (O Brutalista)

Adrien Brody em O Brutalista. No filme de mais de 3 horas, Brody interpreta um arquiteto que foge da Europa pós-Segunda Guerra Mundial e tenta reconstruir sua vida nos Estados Unidos. 

Cena do filme Flow, premiado no Oscar 2025

Melhor animação – Flow

Flow levou o primeiro Oscar da Letônia, que estava torcendo muito pelo filme, e agora as cidades são repletas de gatinhos pretos desenhados. Mais um ponto para a indústria independente.

Cena do filme Wicked, premiado no Oscar 2025

Melhor direção de arte – Wicked

Wicked, a releitura de O Mágico de Oz, foi reconhecido por não utilizar inteligência artificial, assunto que foi debate na premiação deste ano e parece ser uma questão para as próximas premiações.

Cena do filme A verdadeira dor, premiado no Oscar 2025

Melhor ator coadjuvante – Kieran Culkin (A verdadeira dor)

O vencedor foi Kieran Culkin, sim, o irmão do Macaulay, no filme A verdadeira dor, em que dois primos embarcam em uma viagem após a morte da avó, que era judia e sobrevivente do Holocausto.

Cena do filme Emília Perez, premiado no Oscar 2025

Melhor atriz coadjuvante – Zoe Saldana (Emília Perez)

O filme foi bastante aclamado em premiações e era considerado um forte concorrente em várias categorias. Porém, após críticas em relação à representatividade do México e da população mexicana em um filme feito por um diretor francês; e, embora, tenha o marco histórico de ter a primeira atriz trans (Karla Gascón, que não levou a de melhor atriz) concorrendo ao Oscar, a representatividade trans também foi questionada. Karla Gascón foi, ainda, duramente criticada por tuítes de cunho racista. Várias questões podem ser discutidas a partir de Emília Perez, tanto relacionadas à representatividade do filme quanto em relação ao uso de redes sociais para o discurso de ódio. Após as polêmicas, o filme só levou a estatueta de atriz coadjuvante. 

Cena do filme No other land, premiado no Oscar 2025

Melhor documentário – No other land

No other land aborda o conflito Israel-Palestina, e foi produzido por coletivos de audiovisual dos dois lados. Foi um dos grandes momentos políticos dessa premiação, que foi bastante neutra em comparação às anteriores. 

Cena do filme The only girl in the orchestra, premiado no Oscar 2025

Melhor documentário de curta-metragem – The only girl in the orchestra

The only girl in the orchestra conta a história de Molly O’Brien, primeira mulher a se tornar membra da Orquestra filarmônica de Nova Iorque, ampliando o debate sobre a presença feminina na música clássica. 

Cena do filme Wicked, premiado no Oscar 2025

Melhor figurino – Paul Tazewell (Wicked)

Embora a análise apontada aqui foque nas principais premiações, vale destacar que a premiação de melhor figurino foi para Paul Tazewell, que deixou claro no início de seu discurso que era a primeira vez que um homem negro era premiado na categoria. 

Arte para educar em direitos humanos

No Instituto Aurora, usamos expressões artísticas em muitos de nossos projetos como uma maneira de iniciar diálogos sobre Direitos Humanos. Ao entrarmos em contato com narrativas plurais, que mostram diferentes realidades, exercitamos a imaginação e podemos desenvolver sentimentos de empatia e alteridade. Falamos mais sobre isto no artigo “Arte na Educação em Direitos Humanos: criar vivências e transmitir valores”.

Conheça mais sobre os nossos projetos em nosso portfólio.

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Algumas referências que usamos neste artigo:

Diversidade? Oscar é homem, branco e americano, revela análise dos 96 anos do prêmio máximo do cinema | Media Talks

Diversidade é obrigatória no Oscar 2025? Entenda regra de inclusão da Academia | TechMundo

Oscar 2024 bate recorde de representatividade e inclusão: entenda o motivo | Terra

Oscar 2025: ‘Ainda Estou Aqui’ faz história e vence prêmio de Melhor Filme Internacional | Exame

Oscar 2025: confira a lista completa dos vencedores | CNN

Oscar 2025: entenda diferenças no sistema de votação de Melhor Filme | CNN

Oscar adota critérios mínimos de inclusão em busca de premiação mais diversificada | El País

Representation and Inclusion Standards | Oscars

Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
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Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
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A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
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Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
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Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
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Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
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Minha empresa quer doar

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    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
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