Direitos Humanos e Cidadania andam lado a lado numa sociedade democrática. Neste artigo, explicamos a conexão entre os dois conceitos e como eles se desenvolveram no Brasil.

Por Ana Carolina Rahal Augusto, para o Instituto Aurora

(Foto: Lu Berlese)

Os Direitos Humanos se conectam a muitos outros conceitos presentes na nossa vida em sociedade. Por aqui, já falamos sobre a relação entre Democracia e Direitos Humanos. Agora, vamos entender a conexão entre Direitos Humanos e Cidadania.

O que é cidadania?

A cidadania é o exercício dos deveres e direitos dos cidadãos e cidadãs na sociedade.

Thomas Humphrey Marshall, sociólogo que se dedicou ao tema, afirma que o cidadão possui três tipos de direitos:

  1. Direitos políticos: possibilidade de participar da política por meio do voto, da administração pública ou da utilização de instrumentos constitucionais e legais.
    Assim, o cidadão ou cidadã pode se alistar eleitoralmente; habilitar-se para cargos eletivos; ser nomeado a cargos públicos; tem direito de votar em eleições, plebiscitos, referendos, entre outros.
    O artigo 14 da Constituição Federal do Brasil apresenta a soberania sendo exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: (I) plebiscito; (II) referendo; (III) iniciativa popular.
  2. Direitos civis: São os direitos referentes à liberdade individual, ou seja, o direito de ir e vir , a igualdade, o acesso à justiça, inviolabilidade do lar, entre outros.
    O artigo 5º da Constituição Federal fala sobre os direitos civis:
    Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
  3. Direitos sociais: São os direitos referentes aos direitos coletivos, como educação, aposentadoria, saúde, salário e serviço público de maneira digna. 

O que são direitos humanos?

Já os direitos humanos são a liberdade e os direitos que todos os seres humanos têm independente de raça, gênero, classe social, idioma, etnia, entre outros. 

Dentre os direitos humanos, temos o direito à vida digna, à saúde, à liberdade (direito de ir e vir); à educação; ao trabalho digno.

A Lei 12.986/14, que aborda o Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH, afirma em seu artigo 1º, inciso 1º:

§ 1º Constituem direitos humanos sob a proteção do CNDH os direitos e garantias fundamentais, individuais, coletivos ou sociais previstos na Constituição Federal ou nos tratados e atos internacionais celebrados pela República Federativa do Brasil.

Qual a relação entre Direitos Humanos e Cidadania?

Os  Direitos Humanos e Cidadania se interligam pois a cidadania é a busca pela implementação de direitos fundamentais, individuais e sociais. Por meio da participação dos cidadãos e cidadãs na vida política, busca-se a construção de um Estado com maior garantia de direitos. 

Os dois andam lado a lado, fazendo com que a Constituição Federal seja minimamente cumprida.

Por meio da cidadania, é possível buscar por direitos básicos, como por exemplo, educação, informação, saneamento básico, e com isso garantir os direitos fundamentais.

Direitos Humanos e Cidadania no Brasil

No Brasil, tivemos uma evolução do entendimento e da defesa dos Direitos Humanos, e isso ocorreu por meio das Constituições brasileiras. Apresentamos um breve histórico da questão:

  • Em 1824, a Constituição já previa direitos civis e políticos, mas o poder estava concentrado na mão do imperador.
  • Em 1891, tivemos uma Constituição que defendia os princípios da liberdade, igualdade e justiça. O sufrágio começou a ser garantido, mas mulheres, pessoas em situação de rua e analfabetos não podiam votar. A liberdade religiosa passa a ser garantida e cria-se o Habeas corpus.
  • Em 1934, tivemos as garantias aos direitos dos trabalhadores, proteção ao direito adquirido, proibição da prisão por dívidas, comunicação ao juiz das prisões, de imediato, e assistência judiciária gratuita.
  • É necessário pontuar que, com a Ditadura militar em 1964, a repressão policial aumentou muito. Foi um período de muita dor, de muitas mortes e violações completas dos Direitos Humanos.
  • Em 1988, foi promulgada a Constituição Federal que temos atualmente.

Para se garantir os Direitos Humanos no Brasil, constam na Constituição Federal princípios como:

  • Erradicação da pobreza, da marginalização e das desigualdades sociais;
  • Racismo é considerado crime imprescritível;
  • Busca pelo bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, gênero, idade ou cor;
  • Acesso à saúde, à previdência, à assistência social, à educação, à cultura e ao desporto;
  • Crianças e adolescentes são consideradas pessoas em desenvolvimento;
  • Política de proteção ao idoso, à pessoa com deficiência e aos diversos agrupamentos familiares;
  • Busca pela preservação da cultura indígena. 

Quando pensamos sobre a cidadania no Brasil, percebemos que ela sempre encontrou entraves para se consolidar. Afinal, por muito tempo não houve interesse em prever direitos civis, políticos e sociais para a população. Também apresentamos aqui um breve histórico sobre a questão:

  • Em 1824, tivemos os direitos previstos na Constituição, mas a aplicabilidade era quase nula. Podemos ter por base a pouca participação da população na política, já que vivíamos em tempo de escravidão e manipulação dos processos eleitorais.
  • Só em 1930 que a sociedade começa a ver os primeiros benefícios dos direitos sociais.
  • Em 1946, tivemos uma estabilidade nos direitos políticos e civis.
  • Mas com a Ditadura militar em 1964, tivemos  os direitos prejudicados, com muitos retrocessos.
  • Com a Constituição de 1988 e a redemocratização do Brasil, surge a possibilidade de buscar a cidadania novamente. Nela, encontramos o direito ao voto, direitos fundamentais e responsabilidades do poder público. 

A garantia dos direitos civis, políticos e sociais, permitem que os problemas da sociedade sejam discutidos e assim se buscar por mais igualdade e respeito. 

A importância dos Direitos Humanos e Cidadania

A cidadania tem grande importância para que os cidadãos e cidadãs tenham cada vez menos os seus direitos violados, consigam ir e vir, exercer livremente a escolha ao voto, ter acesso a saúde, educação, moradia, saneamento. Para que a cidadania seja exercida, precisa-se construir uma relação forte da comunidade como um todo. 

Já os direitos humanos são importantes para que violações não ocorram, para que o Estado não use da sua força contra os cidadãos e cidadãs. Precisamos buscar os direitos humanos para construir uma vida digna às pessoas, para que não ocorram injustiças e assim podemos pensar em um novo modelo de sociedade, respeitando cada vez mais a Constituição Federal. 

Como a Educação em Direitos Humanos contribui para a construção da Cidadania?

A educação é uma das principais maneiras de transformar a sociedade, por meio da educação conseguimos promover a dignidade da pessoa humana, construindo a cidadania e consolidando a democracia.

Quando falamos especificamente da Educação em Direitos Humanos, estamos falando de uma educação que busca o entendimento de que todas as pessoas possuem direitos e deveres, o reconhecimento das desigualdades e a busca por um senso de responsabilidade, cooperação e solidariedade.

O próprio Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos apresenta uma relação entre a EDH e a cidadania:

“A educação em direitos humanos deve abarcar questões concernentes aos campos da educação formal, à escola, aos procedimentos pedagógicos, às agendas e instrumentos que possibilitem uma ação pedagógica conscientizadora e libertadora, voltada para o respeito e valorização da diversidade, aos conceitos de sustentabilidade e de formação da cidadania ativa.”

Assim, podemos dizer que com a Educação em Direitos Humanos conseguimos buscar uma maneira de construirmos uma sociedade mais justa e igualitária.

Por entender a importância da Educação em Direitos Humanos na construção da cidadania, o Instituto Aurora desenvolve projetos em diferentes frentes de atuação. Conheça as nossas ações de redução de desigualdades.

Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
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Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
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A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
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Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
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Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
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Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
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Minha empresa quer doar

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    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
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