“A gente fala tanto de história da arte, mas geografia da arte ninguém fala. Essa é minha missão na vida”. Quem disse isso foi a Poliana, mais uma personagem da nossa série de artigos sobre as pessoas que constroem o Instituto Aurora com a gente.
Hoje, vamos contar a história desse relacionamento. Para isso, não poderíamos começar sem destacar essa fala da nossa voluntária, pois a missão dela cruzou e caminhou junto com a nossa, em total harmonia.
Poliana é geógrafa, com vasta experiência em cultura e educação, com vivências que a levaram a trabalhar com arte contemporânea, interligando a temática a outros conhecimentos enquanto geógrafa e educadora.
“Pensando geografia como essa ciência que estuda sociedade, natureza e a forma como a gente se relaciona com o mundo… Então, eu acho que a arte e a geografia formam esse casamento que faz todo sentido. De chegar nessas reflexões de quem eu sou no mundo e que mundo é esse a partir das práticas arte-educativas. Dentro desse recorte, o que fez muito sentido e me deixou apaixonada foi pensar a arte contemporânea como esse período da história da arte em que a gente rompe com esse lugar sagrado do artista e da obra de arte, e democratiza ambos”.
Foi através da cartografia – e a união da geografia e da arte -, que Poliana conheceu melhor o Instituto Aurora, em uma oficina sobre cartografia afetiva, que desenvolveu enquanto atuava na Caixa Cultural. A partir dali, foi um longo flerte até se tornar voluntária, recentemente, no projeto Meu, Seu, Nosso Voto (MSNV), idealizado e cocriado pelo Aurora, facilitando rodas de conversa com jovens sobre o voto responsável. “Participei de umas três rodas como facilitadora, e falei para a Mi [Michele Bravos, nossa diretora-executiva]: ‘finalmente, vamos poder oficializar esse status de relacionamento’”.
Esse encontro foi baseado em uma busca pelo conhecimento prático, que depois de alguns desencontros, vingou após o retorno de Poliana de um intercâmbio na Amazônia.
“Eu estou um pouco embebida na teoria, sabe? Mas, buscando a prática. Eu fico com um pé em cada lado. Ao mesmo tempo que eu gosto de ler e estudar, eu preciso da prática. De ver a coisa acontecendo. Quando eu tô num grupo de estudos, lendo, eu me pergunto o tempo todo: Mas o que eu faço com isso? Onde eu ponho isso? De que forma eu ajusto isso no meu cotidiano?”
Publicado em 03/12/2020.
Antes da prática, o estudo
Antes de se tornar facilitadora das rodas de conversa, Poliana participou de um grupo de estudos promovido pelo Aurora. Depois de enfrentar a Covid-19 com toda a família [todos passam bem], recuperada, Poliana continuava motivada a ir para a prática e viu no grupo a oportunidade de voltar a fazer algo que gosta e acredita, “conhecer pessoas que também gostam de falar e pensar sobre arte-educação como essa potência de encontro”.
Para explicar a potência do “encontro”, Poliana recorre a autora Doreen Massey, cientista social e geógrafa britânica, que explica o conceito de “lugar”.
“Essa autora vai defender que temos que lutar e pensar uma geografia enquanto esse sistema aberto, onde múltiplas trajetórias se encontram. E quando temos esse encontro ela chama de lugar. E o lugar, ela diz, prevê diálogo e negociação. O conceito que ela usa é ‘throwntogetherness’. O tradutor usou um termo, “acabar juntos”, e eu acho lindo esse termo. Porque é exatamente isso”.
Nesses encontros, como no grupo de estudos e nas rodas de conversa do Aurora, a Poliana viveu na prática a construção desse lugar compartilhado e de negociações. “Estamos todos aqui, vivendo nessa cidade, seja a escala que for – o meu bairro, a minha cidade, o meu estado, o meu país – a gente está aqui: acabamos juntos. E o que eu faço com isso?”, disse Poliana, sugerindo uma ação prática para o conhecimento teórico.
Com sua bagagem prática como arte-educadora, Poliana uniu vários pontos de interesse, que conversam entre si na construção de uma sociedade mais justa junto com o Aurora. Tanto para seu desenvolvimento pessoal, como no grupo de estudos – em que se deparou com vários autores que desconhecia, ampliando sua literatura e afiando suas reflexões –, quanto para o seu crescimento profissional, como facilitadora – trocando conhecimento com jovens nas rodas de conversa. Neste último, ela reconhece que viveu uma experiência de “abraçar e lidar com a política”, mesmo com desconforto, e com uma temática suscetível ao conflito.
No entanto, Poliana confiou no método círculos de construção de paz, aplicado pelo Aurora, que inspiraram os roteiros das rodas de conversa do projeto MSNV. Com as rodas, ela encontrou – e ajudou a promover – um espaço de diálogo, escuta e reflexão, no qual as pessoas se sentiam à vontade para opinar e analisar seus papeis e os papeis dos políticos na sociedade. Ela, então, relaciona esses encontros com a arte contemporânea, que deixa de lado a centralidade do artista e promove uma construção com o público, coletiva.
Um professor da universidade, certa vez disse a ela que se não tivesse conflito nós nem aqui estaríamos e não iríamos além. “É o conflito que nos obriga a crescer”, e se olharmos com honestidade, encontraremos “uma preciosidade escondida dentro do conflito”, ela disse.
“Acho que esse investimento em não desistir do coletivo, construir as coisas junto, acho que a arte contemporânea traz muito essa reflexão para gente, a partir de obras construídas com o público. Então, acho que é esse exercício que a arte contemporânea propõe pra gente: de construir junto. A gente cai naquele ‘acabar juntos’, naquelas práticas de diálogo, de negociação, de ‘o que a gente faz com isso?’”.
Para a voluntária, essas práticas, como o MSNV e outras ações do Instituto Aurora, que buscam olhar para o coletivo em um trabalho conjunto, suscetível ao conflito, mas com escuta ativa e empatia, são enriquecedoras. “São ricas justamente por não perder a esperança no trabalhar junto, no construir junto, nos lugares onde a gente pode chegar”.
Por questões como essas, Poliana percebe o Aurora como um silenciador de ruídos.
“Eu acho que as iniciativas do Aurora vêm como uma mãozinha no volume… Como se eu estivesse no meio de uma estação que fica só aquele chiado, e eu não consigo ouvir nada, é um barulho muito desconfortável, confuso. E aí as práticas do Aurora vêm como essa mãozinha que sintoniza, e aí do nada eu consigo ouvir música, uma voz de alguém… Traz essa calma. Eu vejo isso como uma constante, pelo que eu conheço do instituto: práticas que promovem escuta e um verdadeiro encontro”.
Apoiando o Instituto Aurora
Assim como a geografia da arte é a missão de Poliana, a nossa é continuar fazendo parcerias como essa para promover a Educação para Direitos Humanos. Mas, para isso, precisamos da sua ajuda.
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