“Carta à rainha louca”, de Maria Valéria Rezende, foi a obra escolhida para ser a leitura coletiva promovida pelo Instituto Aurora no mês de março de 2021. Por meio das leituras coletivas, nós buscamos conversar sobre temas relacionados a Direitos Humanos. A partir desta obra, podemos refletir principalmente sobre a visão do papel da mulher na sociedade.
Por Mayumi Maciel, para o Instituto Aurora
“Carta à rainha louca” é um romance epistolar, ou seja, contado por forma de cartas. Isabel Maria das Virgens escreve uma longa carta para a Rainha Maria I, também conhecida como Rainha Louca, em que conta sua história pessoal e os sofrimentos das mulheres nas mãos dos homens da Coroa.
Isabel começa a escrever sua carta no ano de 1789, encarcerada no Recolhimento da Conceição, por ser “louca e desobediente”. Desde o começo ela fala sobre como as leis são mais duras para as mulheres, e sobre os maus tratos sofridos pelos pobres.
O texto da carta parece seguir um fluxo de pensamento da personagem, com idas e vindas, sem seguir uma ordem cronológica precisa. Por vezes, ela fala de acontecimentos do seu tempo presente, como a busca por papéis, tinta e penas, para que possa escrever. Então, volta ao passado, contando dos dissabores que sofreu até chegar a essa situação de encarceramento.
Algumas questões de desigualdade de gênero que aparecem em “Carta à rainha louca”
A obra se passa no final do século XVIII, portanto apresenta algumas questões sobre a vida das mulheres na época. Por exemplo, Isabel saber ler e escrever é algo bastante incomum, ainda mais por não ser de uma família rica. O futuro esperado para mulheres como Blandina, cuja família era dona de engenho, era de fazerem um “bom casamento”.
Há, no decorrer do livro, descrição de diversas situações que levavam mulheres a serem aprisionadas em mosteiros. Podia ser algo temporário, como quando os maridos partiam em viagens e queriam evitar uma possível traição das esposas. E podiam ser situações mais permanentes, quando as mulheres eram enviadas pela família ou pelas autoridades, por fugirem dos padrões esperados e serem consideradas loucas.
Isabel também comenta sobre mulheres escravizadas: as que estavam no engenho, as que acompanharam Blandina ao mosteiro, as que trabalhavam na cidade. Elas estavam ainda mais longe da liberdade e vulneráveis às violências.
O que a história de “Carta à rainha louca” tem a ver com Direitos Humanos?
O objetivo principal de Isabel escrever a carta à Rainha Maria I é contar a sua história, clamar por justiça, e também explicitar os sofrimentos das mulheres. As leis eram mais duras para as mulheres, elas tinham menos acesso a educação e a empregos, ficavam vulneráveis “sem varão que assegure proteção”, nas palavras da personagem. Ou seja, a disparidade de oportunidades e liberdades era gritante.
Desde o final do século XVIII até os dias de hoje, podemos ver que tivemos avanços quanto aos direitos das mulheres e à igualdade de gênero. Mas podemos pegar vários temas que são abordados no livro e transpor para a atualidade, refletindo sobre o quanto avançamos e o quanto ainda podemos avançar.
- Podemos dizer que há igualdade de gênero na educação e no mercado de trabalho?
- Ainda há uma expectativa grande em cima das mulheres quanto a “um bom casamento”?
- Como julgamos mulheres que fogem do padrão?
- Em que contextos chamamos mulheres de “loucas”?
- Quando pensamos de forma interseccional, levando também em consideração raça e classe, por exemplo, o quanto a desigualdade é mais profunda?
Sobre as leituras coletivas promovidas pelo Instituto Aurora
Todo mês, o Instituto Aurora promove a votação entre dois livros, em nosso perfil no Instagram. O mais votado é escolhido como nossa leitura coletiva do mês seguinte. Ao final do mês, publicamos em nosso blog uma resenha da obra, e refletimos sobre as relações que ela tem com Direitos Humanos.
Quem tiver interesse em se aprofundar na leitura, pode participar do Aurora Clube de Assinatura. Uma das recompensas disponíveis é um Guia de Leitura, com comentários da nossa equipe e perguntas disparadoras de boas reflexões, para te acompanhar nas páginas do livro do mês.