No Brasil, as lideranças de direita e extrema direita costumam negar publicamente qualquer vínculo com a ideologia fascista. No entanto, suas práticas políticas e seus projetos para o futuro do país revelam, de forma evidente, o horizonte autoritário ao qual desejam conduzir a sociedade.
Parte do eleitorado alinhado a esse espectro político, com medo de perder o que conquistou com muito esforço (alguns com nem tanto esforço assim), abraçam regimes de governo que prometem proteger seus status quo. Esse abraço vem ganhando mais braços, conforme as dificuldades econômicas e sociais se expandem e alcançam as elites.
Por outro lado, uma parcela da população economicamente mais vulnerável, imersa em angústia e desespero, busca soluções rápidas e encontra nas narrativas das lideranças de direita e extrema direita um aparente acalento, com promessas de saídas imediatas para a crise que atravessa.
O fascismo, enquanto ideologia, apropria-se de temas ligados a culturas e costumes amplamente valorizados pela sociedade brasileira. A religiosidade, a família e a propriedade privada, em um cenário de profunda polarização, tornam-se pontos de disputa, já que podem ser interpretados de maneiras muito distintas. É justamente nesse tensionamento que o conflito emerge.
Qual o conceito de fascismo?
O fascismo tem origem na Itália, nas primeiras décadas do século XX, sob a liderança de Benito Mussolini, que se tornou primeiro-ministro em 1922. A expressão foi cunhada por ele em referência à organização Fasci Italiani di Combattimento. O termo “fasci”, significa “feixe” e remete ao conjunto de hastes de madeira amarradas em torno de um machado, símbolo da unidade do poder político na Roma Antiga.
O movimento surgiu na Itália na década de 1910 e alcançou o poder com Mussolini na década de 1920. Essa ascensão está diretamente ligada à crise econômica do período, bem como à frustração italiana após a Primeira Guerra Mundial e ao crescente medo do avanço socialista.
O termo “fascismo” refere-se, de forma estrita, ao fascismo italiano, mas, segundo alguns historiadores, pode ser estendido a outros regimes da época, como o nazismo alemão, a Ustasha croata e o franquismo espanhol, entre outros. Atualmente, a palavra ganhou um desdobramento: “neofascismo”, usada para designar movimentos políticos contemporâneos que apresentam aproximações ideológicas e estruturais com o fascismo clássico.
O conceito de fascismo é muito complexo, pois ele é um movimento político social, que se apropria de ideias de diferentes ideologias e, quando no poder, tem características autoritárias, que desprezam direitos humanos básicos e essenciais à vida, priorizando os objetivos das elites.
O que é o neofascismo?
O neofascismo pode ser entendido como uma formulação política recente, uma atualização contemporânea da ideologia que ganhou força na primeira metade do século XX. Embora não apresente diferenças profundas em relação ao fascismo clássico, incorpora alguns elementos considerados novos, como a perseguição mais explícita a migrantes e a movimentos de extrema esquerda.
Além disso, ao contrário do fascismo original, que não adotava políticas econômicas de caráter liberal, o neofascismo tende a se articular com agendas neoliberalistas. Trata-se, portanto, de um movimento que se consolida no pós-Segunda Guerra Mundial e que, em muitos casos, mantém uma admiração explícita pelo legado de Mussolini na Itália.
Na primeira fase do neofascismo no Brasil, o movimento se estruturou em três frentes principais: uma vertente nativa ligada ao neo-integralismo; outra associada a diferentes manifestações de neonazismo; e uma terceira marcada pelo negacionismo do Holocausto. Essas três correntes formaram a base inicial da articulação neofascista no país (Caldeira Neto, 2025).
De modo geral, o neofascismo contemporâneo apresenta características reconhecíveis, como a defesa de práticas autoritárias, a intolerância como método político, a exaltação do militarismo, o nacionalismo extremo e o culto à personalidade de líderes que se colocam como salvadores da nação.
Quais são as características neofascistas
No Brasil, o neofascimo ganha contornos peculiares, como o ataque a pessoas negras e latinas, atitudes separatistas e preconceituosas com algumas regiões do país, como a nordestina. Ou seja, o que se percebe são grupos ultraconservadores com as seguintes características neofascistas:
- Ataques a imigrantes e pessoas de etnias e culturas diferentes;
- Autoritarismo, anti-democracia e defesa de ditaduras militares;
- Patriotismo exagerado, com características xenofóbicas;
- Elitismo, pautado na naturalização das desigualdades;
- Posturas machistas, defendendo a desigualdade entre gêneros;
- LGBTQIA+fobia;
- Culto a líderes e movimentos fascistas do passado;
- Organização através de milícias violentas.
Como o fascismo e o neofascismo estão ligados a extremismos?
Para que ideais fascistas e neofascistas se consolidem de fato na sociedade, é preciso que haja uma adesão quase total. Qualquer pessoa ou grupo que fuja dessa lógica tende a ser hostilizado, muitas vezes por meio de práticas extremas que incluem intolerância, perseguição e violência.
Portanto, o fascismo e o neofascismo não podem viver sem o extremismo, pois sempre haverá quem divirja das ideologias fascistas, bem como, sempre haverá divergência com as demais ideologias.
A insegurança econômica e a instabilidade em diferentes setores públicos levam parte da população a buscar soluções emergenciais, que nem sempre são coerentes ou compatíveis com a proteção de direitos fundamentais. Em contextos históricos de ascensão do fascismo, essa busca por respostas rápidas abriu caminho para a construção de inimigos comuns.
Na Itália de Mussolini, por exemplo, grupos como homossexuais, militantes de esquerda, judeus e eslavos foram transformados em alvos preferenciais. Na Alemanha nazista, essa lógica se intensificou, ampliando a violência também contra negros, ciganos e outras minorias.
Em ambos os casos, uma retórica ultracatólica e moralizante serviu como sustentação simbólica para os extremismos de direita.
Educação em Direitos Humanos para prevenir extremismos
A Educação em Direitos Humanos (EDH) pode atuar na prevenção de extremismos ao promover a desconstrução dessas narrativas, estimulando seu reconhecimento e evidenciando quando determinados discursos ultrapassam limites éticos e violam a dignidade de outras pessoas — seja por meio do ódio, da intolerância ou da desinformação.
A EDH promove empatia e respeito à diversidade, valorizando o diálogo e o reconhecimento intercultural e inter-religioso. Também fortalece a cidadania ativa, a responsabilidade coletiva e a resolução pacífica de conflitos. Esses elementos contribuem para a construção de uma sociedade mais humanizada, capaz de conviver com suas próprias discordâncias.
O enfrentamento ao extremismo e ao neofascismo exige vigilância constante e compromisso firme com a democracia e com os direitos humanos. É fundamental desconstruir a cultura do ódio e da polarização, fortalecendo a educação crítica, a participação social e políticas inclusivas que reduzam desigualdades e ampliem o acesso a direitos.
Em quem nos inspiramos
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