Eventos como a cerimônia do Oscar podem ser uma boa oportunidade para discutir Direitos Humanos. A partir da edição de 2021 da premiação, levantamos alguns temas que estiveram em evidência, como as desigualdades raciais e de gênero, e alguns filmes que tocam em questões relevantes
Por Gabriela Esmeraldino, para o Instituto Aurora
No dia 25 de abril de 2021 ocorreu a esperada noite de Oscar. A cerimônia já iniciou com Regina King mencionando o veredicto que condenou Derek Chauvin, responsável pela morte de George Floyd.
O Oscar é, atualmente, a premiação mais importante do cinema, celebrando os que são considerados, de acordo com os critérios e regras estabelecidos, os melhores filmes e profissionais do mundo.
Antes de abordarmos os filmes em si, é importante falar sobre o histórico de desigualdades raciais e de gênero que estão presentes na história do Oscar, o que abre um grande leque de assuntos para discussões de Direitos Humanos.
O que vamos abordar neste artigo:
- Alguns dados de 2021 que apontam as desigualdades no Oscar
- Os filmes do Oscar 2021 e os Direitos Humanos
Publicado em 04/05/2021.
Alguns dados de 2021 que apontam as desigualdades no Oscar
Essa edição foi a primeira em que uma mulher não-branca foi premiada na categoria de direção: Chloe Zhao levou essa estatueta e a de melhor filme, por “Nomadland”. Antes dela, apenas uma mulher tinha ganhado na categoria de direção: em 2010, Kathryn Bigelow foi premiada por “Guerra ao Terror”.
A surpresa já começou no anúncio dos indicados, pois pela primeira vez duas mulheres concorreram à direção. Além de Zhao, Emerald Fennell concorreu com o filme “Bela Vingança”, que não levou o prêmio de direção, mas levou o de roteiro original.
Porém, como nem tudo são flores, no mesmo ano de boas surpresas, antes mesmo dos anunciados, houve uma polêmica com o filme “Never rarely sometimes always”. Um dos membros da Academia enviou uma carta para a diretora dizendo que se recusava a assistir ao filme pelo tema abordado: aborto.
Esse ano também tivemos o terceiro filme da história dirigido por um homem negro a concorrer pela estueta de direção. “Judas e o Messias Negro” contou com a produção apenas de pessoas negras. Antes dele, apenas dois filmes dirigidos por negros concorreram e ambos levaram a estatueta: em 2014, Steven McQueen com “12 anos de escravidão”, e em 2017, Barry Jenkins foi premiado por “Moonlight”.
Embora “Judas e o Messias Negro” não tenha levado a premiação de melhor filme, levou a de melhor canção original, estatueta que foi para as mãos de H.E.R, uma mulher negra de 23 anos que já tem alguns Grammys na conta.
Além disso, Mia Neal e Jamika Wilson levaram as estatuetas de melhor maquiagem e melhor figurino pelo filme “A Voz Suprema do Blues”, que conta a história de Ma Rainey, uma das maiores vozes do blues. Pela primeira vez, mulheres negras foram premiadas nessas categorias. No discurso, falaram da importância de se tornar comum que mulheres negras e trans sejam premiadas, e que não seja algo surpreendente.
Nesses 93 anos o número de pessoas negras a serem premiadas é quase insignificante, e por isso houve surpresa em 2021.
E mais uma novidade veio na categoria de atriz coadjuvante, em que pela primeira vez desde 1958, uma mulher asiática foi premiada. A coreana Youn Yuh-jung fez um dos melhores discursos da noite, e ainda repreendeu Brad Pitt por errar seu nome.
Essas mudanças são excelentes, e dão esperança de um Oscar mais igualitário no futuro. Mas nunca devemos esquecer que essas mudanças não vieram gratuitamente, foram exigidas, protestadas, muitas vezes no próprio palco da premiação. E, principalmente, não podemos esquecer que esse mesmo palco que comemorou a diversidade no dia 25, também separou Hattie McDaniel, em 1939, primeira mulher negra a receber um Oscar, da equipe do filme “E o Vento Levou”, por ser uma mulher negra. As conquistas devem ser comemoradas, mas a história e a luta não podem ser esquecidas.
Qualquer um dos filmes citados acima, desse ano ou de anos passados podem ser utilizados como ferramenta para iniciar o debate sobre Direitos Humanos. Mas agora que a parte polêmica do Oscar foi comentada, faremos um mini apanhado dos filmes desse ano.
Os filmes do Oscar 2021 e os Direitos Humanos
Na categoria de melhor filme, já citamos “Judas e o Messias Negro”, e aqui ele entra com “Os 7 de Chicago”. Os dois filmes, não propositalmente, ocorrem na mesma linha temporal nos EUA. “Os 7 de Chicago” conta sobre o julgamento de manifestantes por supostamente causar tumulto, que deixou diversas pessoas feridas, em uma manifestação contra a guerra do Vietnã. O filme retrata a corrupção do judiciário, racismo no tribunal, violência policial, entre outros temas. Entre os sete julgados, está Fred Hampton, líder do Partido dos Panteras Negras. O Partido é o assunto de “Judas e o Messias Negro”, que conta sobre a ação do FBI que assassinou Fred.
A categoria de filmes estrangeiros é a mais difícil de selecionar um para comentar aqui. Apenas “Druk”, filme dinamarquês que levou a estatueta e também concorreu na categoria de direção, não aborda temas de Direitos Humanos.
“Better Days”, que representou Hong Kong, além de um romance adolescente, foi uma campanha anti-bullying no país. O filme retrata as consequências do bullying nas escolas, critica a estrutura escolar e familiar, e as condições em que as famílias estão inseridas a ponto de os jovens estarem desamparados.
“Collective” representou a Romênia, e também concorreu a melhor documentário. O filme é uma denúncia à corrupção no sistema farmacêutico do país, que foi descoberta após a morte de diversas pessoas por contaminação hospitalar após um incêndio.
“O homem que vendeu sua pele”, representando a Tunísia, além de abordar uma reflexão sobre o que é e quais são os limites da arte, fala também sobre a vida de um refugiado na Europa.
E, provavelmente, o mais polêmico da lista, “Quo Vadis, Aida?”, da Bósnia, faz uma crítica bastante dura em relação a atuação da ONU no genocídio bósnio. Além de acompanhar a tentativa de Aida em manter sua família viva, mostra a burocracia interna da ONU.
Vários outros filmes poderiam ser citados, mas vamos parar por aqui, e caso você tenha interesse na educação em Direitos Humanos a partir da arte, fique ligado na nossa agenda de grupo de estudos e eventos sobre o assunto.
Além disso, nós já falamos sobre a importância da arte na educação, no artigo Arte na Educação em Direitos Humanos: criar vivências e transmitir valores, e sobre a importância em se manter atualizado sobre as artes que estão em alta e que podem ser ferramenta para interesse nos jovens, no artigo O que os artistas mais influentes de 2021 têm a ensinar?
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Algumas referências que usamos neste artigo:
Mia Neal e Jamika Wilson são primeiras negras a vencer na Caracterização
Oscar 2021: Youn Yuh-jung, de ‘Minari’, rouba a cena da temporada com discursos hilários