Barbara Vanzo é uma das voluntárias que está há mais tempo ao lado do Instituto Aurora. Com todo esse período de caminhada, ela traz a sua visão sobre a atuação do Instituto e sobre o que é fazer trabalho voluntário.
Por Mayumi Maciel
Zen e enérgica. Essas duas palavras podem parecer contraditórias, mas não são. E, se você conhecer a Barbara Vanzo, voluntária do Instituto Aurora, vai ver que essas duas características se apresentam muito bem em uma mesma pessoa.
A Barbara é de Curitiba, gosta de viajar, é fotógrafa principalmente de mulheres e terapeuta de ginecologia natural. E está na caminhada com o Instituto Aurora há muito tempo. Muito tempo mesmo. Antes ainda de o Aurora existir.
Por volta de 2013 ou 2014, a Barbara foi participar pela primeira vez de uma atividade voluntária. Era um outro projeto organizado por Michele Bravos, nossa diretora-executiva, antes do nascimento do Instituto Aurora.
O interesse de Barbara surgiu porque era algo que ela sabia fazer: fotografia. E foram várias ações em que ela colocou à disposição essa sua habilidade. Sempre acompanhando o que Michele fazia, ela seguiu sendo voluntária quando o Instituto deu seus primeiros – lá em 2017 – e segue até hoje. “Quando o Aurora surgiu, eu já estava lá”.
Explorando várias habilidades
Apesar de a possibilidade de exercer a sua habilidade como fotógrafa tenha sido o atrativo principal quando Barbara foi voluntária pela primeira vez, com o passar do tempo ela foi se envolvendo em outras atividades.
“Já passei por muitas áreas, já fiquei fotografando, fui para logística, ajudei em áreas novas para mim (como lidar com roupas, produção), fotografei making of de documentário, fotografei eventos, chamei gente para participar do documentário, e por fim conduzi rodas de conversa.”
O que é ser voluntária, na visão da Barbara?
Uma coisa que Barbara percebeu, já nas primeiras atividades voluntárias em que se envolveu, é que o voluntariado, na sua visão, não é uma doação.
“Não é sobre o que eu doo, mas sobre o que eu recebo. Sempre vão ser interações novas, histórias novas, sabedorias novas. Isso que me motiva a continuar, e sentir que estou ajudando a construir o mundo que eu quero. Mas principalmente pela troca, não é sobre ir lá e fazer algo, mas pelo que eu recebo, pela troca, pela interação.”
Um dos momentos mais marcantes desses anos todos de voluntariado foi durante o projeto “Eu Vejo Flores”, que depois virou um documentário do Instituto Aurora. Durante uma atividade na Penitenciária Feminina de Piraquara, Barbara conversou com cada uma das mulheres que estavam participando do projeto, e ouviu suas histórias de vida.
Além disso, em outro dia do projeto, ela acabou voltando para casa porque estava passando mal. Ao entrar em seu banheiro, começou a chorar, por perceber que tinha um banheiro só para si, enquanto as mulheres com que havia conversado passavam anos sem essa possibilidade. Isso mudou a sua visão de mundo.
E o voluntariado online?
As atividades do Instituto Aurora sempre foram muito do “olho no olho”, de ter um contato próximo e pessoal. Com a pandemia e a transição para o online, surgiram muitas dúvidas de como seria a dinâmica dos projetos.
A Barbara é uma pessoa que ficou um pouco insegura de participar de uma atividade voluntária online por causa da tecnologia, que não é muito a sua praia. Havia o receio do áudio não funcionar bem, da internet cair, de não haver conexão com as participantes ou de perder o controle da situação. Mesmo assim, ela topou participar conosco na facilitação de rodas de leitura online, com mulheres que estão no Centro de Integração Social (CIS) de Piraquara. E deu tudo certo!
“Antes da pandemia, a gente estava muito acostumado com o olhar, às vezes até um abraço. A gente tinha isso como recurso, o recurso do olhar, de poder ver as mulheres, as meninas. No online, parece que as coisas demoram um pouco mais para desenrolar, para confiarem. Mas depois que acontece essa ligação, é tão enriquecedor quanto. Não acho que seja a mesma coisa, mas acho que é bem produtivo também, e se é a forma que a gente tem agora, dentro das possibilidades, vamos fazer da melhor maneira possível.”
Durante essas rodas de leitura online, algo que chamou a atenção da Barbara foi as participantes terem escolhido um conto que falava sobre abuso para ser discutido em um dos encontros. Mesmo depois de tantos anos convivendo com essas histórias, o fato de esse assunto ter sido escolhido fez com que ela pensasse sobre o quanto a gente ainda precisa falar a respeito. “As coisas não vão ser apagadas se a gente deixar elas quietinhas num canto”.
Sobre estar disposta a compartilhar um pouco de si
Uma outra situação vivida nas rodas de leitura foi um momento em que estávamos falando sobre aceitar o próprio corpo. Uma das mulheres comentou que tinha vergonha de sair na rua sem sutiã e a Barbara falou que faz anos que não usa, tecendo comentários bem humorados a respeito, que levantaram risadas e encorajaram as participantes a pensarem sobre o assunto.
“Algumas pessoas podem pensar que para fazer voluntariado você precisa saber sobre muitas coisas, dominar muitas coisas. Às vezes você só precisa compartilhar e contar como as coisas são para você. Com os anos, a gente percebe que as histórias são muito diferentes mas, guardadas as devidas proporções, nossas inseguranças e anseios são os mesmos. Todo mundo quer se sentir aceita, pertencente, valorizada e respeitada.”
O impacto do trabalho voluntário no Instituto Aurora na vida da Barbara
Barbara enxerga que participar das ações do Instituto Aurora influencia diretamente no seu trabalho, ainda mais por ser fotógrafa principalmente de mulheres. Ela revela que, antigamente, o seu sonho era ter um trabalho cada vez mais exclusivo, e agora, o desejo é que ele seja cada vez mais acessível.
Outro aspecto que mudou em sua vida foi a empatia. Ao participar de atividades do Instituto Aurora, Barbara percebe que passou a ter mais dificuldade em julgar as pessoas e separá-las entre “certo” e “errado”. Conhecer suas histórias e entender seu passado são questões que ela considera importantes.
“Sou muito grata por participar do Instituto Aurora desde o começo e por ter oportunidade de aprender tanto sobre outras realidades e sobre eu mesma. É um aprendizado muito grande, e a gente acaba tendo essa ligação até entre os voluntários, que vêm caminhando juntos há tantos anos. Gratidão muito grande por todas as transformações que o Instituto Aurora teve na minha vida, meu trabalho, minhas prioridades. Muitas coisas que eu não tinha interesse cresceram, como política. Fui estudar coisas novas, como comunicação não-violenta. Fazer parte do Instituto Aurora me faz tão bem que eu quero ser uma pessoa cada vez melhor.”
Uma mensagem para quem quer se envolver com trabalho voluntário
“Acho que muitas pessoas têm dificuldade de lidar com a troca. Vão para um voluntariado achando que vão dar o que têm e vão embora, e a troca é muito forte mesmo. Ter que olhar para a realidade do outro, sair da sua bolha, é muito difícil. Você provavelmente vai aprender mais do que ensinar. É preciso ir de mente aberta, de coração aberto e de vontade aberta. Mente aberta para conhecer novas realidades, coração aberto para a troca e vontade aberta para acontecer o melhor para cada um. Ter empatia é fazer pelo outro o que o outro quer que você faça, e não o que você gostaria que fizessem se você estivesse naquela situação.”
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