Entenda um pouco mais da atuação do Instituto Aurora pelo olhar de quem nos acompanha de perto. No artigo de hoje, apresentamos a Patricia Meyer, que é uma de nossas conselheiras.
Quem é Patricia Meyer
É difícil falar da Patricia sem associá-la à palavra “comunicação”. Não só por ser sua área de formação e também de atuação, mas a Patricia é aquela pessoa do diálogo, da troca, do compartilhamento.
“Eu trabalho com comunicação, eu acredito muito na comunicação. No meu mestrado, eu trabalhei com a perspectiva educomunicativa, e eu vivo e trabalho numa instituição que é uma instituição de inclusão, [o Instituto Federal do Paraná].”
Além de conselheira, Patricia também já atuou como voluntária no “Aurora Clube do Livro”, e é articuladora de parcerias institucionais. Ou seja, está abraçada com a gente.
Publicado em 30/11/2020.
Antes do Aurora ser Aurora
Os primeiros contatos de Patricia com o Instituto Aurora ocorreram antes da organização estar formalizada em si, mas com a sua sementinha já plantada. Ela é amiga de anos da Mayumi Maciel, nossa organizadora do Clube do Livro e quem coordena todo o relacionamento com voluntárias, e ficou sabendo da exposição “Realidades Invisíveis”, fruto de uma ação na Penitenciária Feminina de Piraquara. O ano era 2015, e a exposição foi montada na PUCPR, onde Patricia era doutoranda. Formalmente, o Instituto só passou a existir dois anos depois.
A partir daí, começou a acompanhar pelas redes sociais as atividades em que Mayumi se envolvia, organizadas pela Michele Bravos, nossa fundadora. Com temas como artes, educação e direitos humanos, Patricia pensou que poderia ser uma boa oportunidade para se aproximar e se envolver. E foi mesmo!
Primeira aproximação com o Instituto Aurora
Um aspecto do Instituto Aurora que despertou o interesse de Patricia é a questão do diálogo. Por ser professora no IFPR, ela lida com públicos diferentes, que trazem bagagens diferentes, e por isso mesmo o diálogo é fundamental. Patricia considera que precisa ancorar a construção de conhecimento com aquilo que os alunos trazem.
“Então, de imediato, eu fiquei encantada ao perceber que era possível fazer uma frente de lutas muito forte e muito presente com relação à questão de direitos humanos, sem adotar uma posição de embate, de conflito. Ao contrário: com uma posição de escuta.”
Além disso, a Patricia vê uma grande força na arte como instrumento para o diálogo. Uma vez que a arte tem diferentes camadas, ela pode ser vista em diferentes contextos e interpretada de diferentes maneiras, a partir da visão de mundo e da bagagem de cada pessoa. Para ela, a arte é também uma forma de falar sobre assuntos que, muitas vezes, são difíceis de um modo menos sisudo e mais orgânico.
A partir dessa identificação com o Instituto Aurora, a Patricia decidiu se inscrever para ser voluntária. Participou de um encontro onde foi apresentada a nossa visão sobre o voluntariado, e pensou em se aproximar a partir de duas perspectivas. Uma, enquanto “pessoa física”, vendo uma possibilidade de formação e de provocação reflexiva sobre a sua prática como docente, buscando formação na área de educação em direitos humanos. Outra, enquanto servidora pública no Instituto Federal do Paraná, traçando parcerias entre a instituição e o Aurora. Lá, no IFPR, a Patricia atua com a formação técnica dos alunos do curso de eventos, e busca que eles trabalhem também numa perspectiva de formação integrada e cidadã.
A criação do evento “Humanidade se compartilha”
Com a ideia de fazer essa aproximação entre o Instituto Aurora e o IFPR, em 2019, foi realizado o evento “Humanidade se compartilha”, em que os alunos do curso de Eventos tiveram o Instituto Aurora como “cliente”. O evento consistiu em uma noite de compartilhamento de histórias de vida, a partir da trajetória pessoal de seis pessoas (um pai de uma menina com deficiência, uma mulher trans, duas mulheres negras, uma mulher com deficiência e uma mulher refugiada). O objetivo era despertar a empatia do público e permitir que ele entrasse em contato com os direitos humanos por meio das vidas apresentadas.
“O evento retomou uma paixão minha pelas histórias, que era uma coisa que eu tinha muito forte como jornalista. Eu sempre gostei muito de ouvir histórias das pessoas. Acho que o que a gente leva são só as histórias que a gente vive. Mas, ali, as histórias estavam em uma perspectiva diferente. Para a construção de uma cultura de direitos humanos, ouvir as histórias de vida é muito importante, pois gera diálogo, empatia, escuta ativa. Tudo o que a gente fala tanto e que é tão difícil praticar.”
A experiência como conselheira do Instituto Aurora
Quando a Patrícia recebeu o convite para ser conselheira do Instituto Aurora, ela chegou a ficar incomodada num primeiro momento, por acreditar que ainda tem muito o que aprender, e se questionou sobre o que teria para entregar. Por fim, ela decidiu não julgar antes de saber quais eram as demandas. Ainda bem que ela topou o desafio, pois nós acreditamos que ela tem contribuído demais como nossa conselheira! E, como ela mesma diz, tudo é troca, colaboração e compartilhamento.
A forma como a Patricia veio para ser conselheira foi com a ideia de pensar, provocar, de ser uma cabeça interessada nas mesmas coisas, mas com fontes diferentes. Ela fez o movimento de trazer para o Aurora a sua bagagem e ajudar com o que tinha.
“Acho que, sem dúvida, ser conselheira do Aurora foi a melhor coisa que aconteceu neste ano de 2020. Virou um movimento muito natural oferecer, ter essa troca. Porque eu gosto muito e eu aprendo muito também.”
“Diálogos Inter-Raciais” e sua importância no momento em que vivemos
Uma atividade recente do Instituto Aurora, em parceria com o IFPR e na qual a Patricia teve um envolvimento indispensável, foi o projeto “Diálogos Inter-Raciais”. Este é um tema que toca Patricia num nível pessoal, pois ela é fruto de uma casamento inter-racial, e questões relacionadas ao racismo sempre estiveram muito presentes em sua vida.
Por exemplo, quando surgiu a questão das cotas raciais, Patricia era assistente da Justiça Federal. Ela lembra que o ambiente era polarizado com esse tema: alguns juízes defendiam muito, enquanto outros eram totalmente contra.
Só mais recentemente ela percebeu um movimento de conseguir encontrar autores negros com explicações teóricas para situações que ela sentia na pele, mas não conseguia explicar o motivo de sua indignação. Já no IFPR, Patricia esteve por um tempo em um cargo de direção de comunicação, que também tinha uma representatividade no cenário em que estava.
“Eram poucas mulheres em cargos de gestão, e menos ainda mulheres negras. Eu comecei a ver que eu poderia ter dois caminhos naquele momento: ou eu entendia que eu não tinha nada a ver com aquilo e caminhava à margem disso, ou eu assumia isso como uma pauta, como uma questão, e colocava isso em cada momento que eu tivesse oportunidade. De forma orgânica, dentro do diálogo, mas sempre que tivesse a oportunidade.”
No momento, Patricia não está mais à frente da direção de comunicação, mas assumiu a coordenação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do IFPR.
Embora o evento “Diálogos Inter-Raciais” tenha acontecido em 2020, Patricia acredita que ele não foi construído apenas neste momento. Mas, sim, que foi algo que aconteceu devido a sua trajetória de vida, à trajetória de vida de Michele Bravos, à trajetória do Instituto Aurora, e culminou num momento em que tudo isso se encaixou. Há, ainda, outros fatores que contribuíram, como estarmos vivendo um momento em que as pessoas estão mais abertas a se entenderem como corresponsáveis diante da pauta antirracista.
Colaboração: um movimento de ida e volta
Patricia gosta muito de trabalhar com colaboração. Ela não acredita num movimento só de ida, de transmissão de conhecimento apenas em um sentido, e, sim, que o conhecimento se constrói na troca, no compartilhamento.
No Instituto Aurora, a Patricia vê que a troca e o compartilhamento acontecem de forma orgânica, pois as pessoas envolvidas estão abertas a aprender e a escutar. Desta forma, gosta de participar de atividades em que o Instituto esteja envolvido, porque acredita que sai delas com novas ideias, novos insights, e energizada – ainda que possa sair cansada por ser provocada a pensar e “quebrar a cabeça”.
“Para mim, essa nossa parceria rolou muito bem pela questão do diálogo, pela questão do compartilhamento e da colaboração, e por isso ter sido orgânico. Nenhum momento foi forçado.”
O diálogo como um caminho possível
Patricia reforça que o mais importante, o que mais chama a atenção no Instituto Aurora é a perspectiva do diálogo. Principalmente por se ver num contexto – tanto de relações pessoais quanto profissionais – e muita polarização. A ideia não é de deixar de se posicionar – como algumas vezes escuta – e, sim, de estar disposta a ouvir, entender e, a partir disso, fazer propostas.
“Quando tudo parecia impossível, o Instituto Aurora me mostrou que a frente de trabalho, a frente de atuação, a frente de ativismo em que eu acreditava – que é uma frente de diálogo e de colaboração – é possível.”
Apoiando o Instituto Aurora
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