“Cartas para a minha mãe”, de Teresa Cárdenas, foi a obra escolhida como leitura coletiva organizada pelo Instituto Aurora no mês de julho de 2021. A partir do livro pudemos refletir sobre várias questões, especialmente sobre racismo, preconceito e violência contra a mulher.
Por Mayumi Maciel, para o Instituto Aurora
“Cartas para a minha mãe”, de Teresa Cárdenas, é um romance epistolar, ou seja, escrito no formato de cartas, como o próprio título já diz. Na obra, a protagonista, que não tem nome, escreve várias cartas endereçadas à sua mãe, já falecida. Depois de sua morte, vai morar com a tia Catalina e suas filhas Lilita e Niña, que passam o dia zombando dela.
Além das familiares com quem mora, a menina também faz várias referências à sua avó, que frequentemente aparece por lá. Com o passar do tempo, novas personagens são apresentadas, como colegas de escola; uma senhora que vende flores, Menú; um menino da sala com quem ela se dá bem, Roberto; um namorado da tia, Fernando.
Em boa parte das cartas, a protagonista tem cerca de dez anos de idade, e o livro finaliza com cartas escritas aos 15 anos. Mais madura, ela reflete sobre o relacionamento com a mãe e com outras pessoas da família.
Atualizado em 18/06/2024. Publicado em 30/07/2021.
A infância e o racismo em “Cartas para a minha mãe”
A protagonista vivencia diferentes situações de racismo em seu cotidiano, o que acaba relatando nas cartas que escreve para a mãe. Logo no início do livro, ela comenta que começou a estudar na escola local e percebeu ser “a menina mais alta e mais preta da sala”, além de relatar sobre uma colega de pele clara que parece ter vergonha do pai, que tem a pele mais escura.
A avó da personagem, em diversas passagens, acaba demonstrando uma crença de que pessoas brancas seriam superiores. Por exemplo, ela diz que seria bom casar com um branco para “apurar a raça”, e vive elogiando a família para quem trabalha, mesmo tendo muito serviço e recebendo pouco.
A menina ainda relata xingamentos referentes à sua aparência, que ouve de suas próprias familiares. Mesmo assim, ela demonstra orgulho de ser quem é, como na seguinte passagem:
“Mãezinha,
Encontrei um pedaço de espelho na rua.
Agora, passo o tempo todo me olhando. A testa, os olhos, o nariz, a boca…
Sabe de uma coisa? Descobri que meus olhos são parecidos com os seus, que não podiam ser mais bonitos, e que minha boca e meu nariz são normais. Não gosto que digam que negros têm o nariz achatado e beição. Se Deus existe, com certeza está furioso por ouvir tanta gente criticando sua obra.”
O que “Cartas para a minha mãe” tem a ver com Direitos Humanos?
Como mencionado anteriormente, a questão racial é um aspecto de grande relevância em “Cartas para a minha mãe”. É um assunto de destaque, abordado pelo olhar infantil da personagem.
Um outro tema que aparece e que podemos nos atentar é a violência contra a mulher. Isto acontece principalmente a partir da introdução do personagem Fernando, namorado da tia Catalina.
No início, a família fica encantada com Fernando, por ser “bastante claro e de cabelo quase liso”, por parecer querer um relacionamento sério com Catalina, e ter um boa relação com as meninas. Mas a protagonista, além de considerá-lo metido desde o começo, acaba testemunhando uma situação de abuso de Fernando com Lilita, que estava doente, na cama. Com medo, ela acaba não relatando o ocorrido a ninguém.
E ainda, em dado momento, Fernando bate em Catalina, some por 15 dias e depois volta para a casa delas “de barba por fazer, todo sujo”. Mesmo assim, Catalina aceita a sua presença e cuida dele.
Além desses temas, podemos refletir ainda sobre infância e família, nas relações da protagonista em casa e fora dela.
Leituras coletivas foram promovidas pelo Instituto Aurora
Durante o ano de 2021, o Instituto Aurora promoveu um Clube de Assinatura, com o objetivo de captar recursos e entregar conteúdos exclusivos sobre direitos humanos para assinantes. “Cartas para a minha mãe” foi uma das leituras coletivas realizadas pelo Clube.
Quer conhecer outros projetos de Educação em Direitos Humanos do Instituto Aurora? Acesse a seção “Portfólio”.
Acompanhe o Instituto Aurora nas redes sociais: Instagram | Facebook | Linkedin | Youtube