Em referência ao 10 de outubro, Dia da Luta Contra Violência à Mulher, queremos trazer uma reflexão para esse tema no ambiente de trabalho. É possível realizar uma atividade de educação em direitos humanos, por meio da arte, para falar deste assunto. Para isso, sugerimos alguns filmes que podem estimular o diálogo.
Por Gabriela Esmeraldino, para o Instituto Aurora
No dia 10 de outubro de 1980 mulheres se reuniram em frente ao Teatro Municipal de SP para protestar contra o aumento da violência contra mulheres, principalmente o feminicídio (que na época ainda não era considerado um tipo de crime específico e não tinha esse nome). E por isso a data foi escolhida como Dia da Luta Contra Violência à Mulher.
Infelizmente, 35 anos depois, em 2015, o Brasil ocupava o 5º lugar no ranking MUNDIAL de violência de gênero. E, em 2020, quando os protestos fizeram 40 anos, 17 milhões de mulheres foram vítimas de violência de gênero no Brasil. A pandemia e o isolamento social alavancaram as estatísticas que já eram bastante altas.
Embora o objetivo principal dos protestos fossem a luta contra o feminicídio, há muitos outros tipos de violência de gênero que não levam a morte. A violência física é a mais perceptível e mais fácil de entender, mas muitas mulheres vivem anos como vítimas de violências que sequer percebem por causa do machismo estrutural do qual somos vítimas. Dentre elas, a violência psicológica, talvez a mais difícil de perceber, e que apenas esse ano se tornou crime no Brasil, violência financeira, violência sexual, etc.
Tópicos deste artigo:
- Violência à mulher no ambiente de trabalho
- Mudando esse cenário nas empresas
- Como iniciar diálogos sobre o tema da violência à mulher no trabalho?
Publicado em 08/10/2021.
Violência à mulher no ambiente de trabalho
E não é apenas em casa e na rua que as mulheres estão sujeitas à violência, a violência de gênero no trabalho também tem números alarmantes. Em estudo realizado em 2020, 53% das mulheres reconheceram que já sofreram assédio sexual no trabalho. Algumas, não inclusas nesse número, sequer sabem se o que sofreram foi ou não assédio sexual.
Um estudo realizado pela Forbes em 2020 constatou que 1 a cada 6 mulheres pede demissão após uma situação de assédio sexual no trabalho. É importante destacarmos aqui, entretanto, que a demissão deveria ser a última opção para a vítima, e que o assédio fosse combatido após o ocorrido – e, principalmente, antes.
Este problema está diretamente relacionado com a desigualdade de gênero nas relações de trabalho. Em dados do IBGE de 2020 constatou-se que enquanto 73,7% de homens integravam a força de trabalho, apenas 54,5% de mulheres estavam empregadas, o que mostra a dificuldade que mulheres têm de se inserir no mercado de trabalho. Apenas 7,6% das mulheres ocupam cargos de liderança, e essas ganham 23% menos do que os homens no mesmo cargo.
Essa desigualdade faz com que as mulheres tenham que lutar muito mais para alcançarem cargos altos, mesmo quando são tão ou mais qualificadas que homens. Isso também impacta até para conseguir um emprego comum e não fazer parte das estatísticas assustadoras de desemprego. Essa relação desigual muitas vezes gera uma dependência da mulher com o emprego que conseguiu, o que facilita que os assediadores não sejam denunciados, já que muitas vezes o emprego dessas mulheres depende do assediador. E, normalmente, quando o assédio ocorre com mais de uma mulher, o assediador mantém uma postura de incentivo à rivalidade feminina dentro da empresa, para que as mulheres não troquem informações sobre o assédio.
Mudando esse cenário nas empresas
É imprescindível que as empresas tenham canais de denúncias seguros e eficazes, e que não estejam ligados aos líderes homens. Além disso, essas denúncias precisam gerar processos e ações para que o assediador não saia impune e, principalmente, para que a vítima não seja punida. Além dos canais de denúncia é importante educar mulheres para que saibam identificar quando um comportamento pode ser considerado assédio.
O Brasil é signatário da Agenda 2030 da ONU, e podemos destacar o ODS 5, que fala sobre igualdade de gênero. Dentre as metas deste ODS, estão acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte, eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas e garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança. Ou seja, não é possível atingir a igualdade de gênero se não pensarmos também nas relações de trabalho.
Como iniciar diálogos sobre o tema da violência à mulher no trabalho?
O Instituto Aurora acredita na força da arte para educar em direitos humanos, tanto que temos um artigo em nosso blog sobre isso: Arte na Educação em Direitos Humanos: criar vivências e transmitir valores. Por isso, fizemos uma coletânea de filmes que falam sobre violência contra a mulher no ambiente de trabalho, para que as empresas possam olhar para a data do 10 de outubro como uma oportunidade de iniciar um diálogo sobre assédio com as funcionárias e os funcionários. Que tal fazer uma exibição de filme seguida de uma roda de conversa sobre o assunto?
O Escândalo
O primeiro filme é “O Escandâlo” (Bombshell), que fala sobre a história real do escândalo que ganhou as mídias mundiais, quando as mulheres que trabalhavam na FoxNews começaram a denunciar Roger Ailes, um dos chefes da emissora aliada ao conservadorismo e direita estadunidense, por assediar mulheres em troca de bons cargos que mudariam suas carreiras.
Embora esse filme esteja em todas as listas de filmes sobre assédio, ele é um bom instrumento para iniciar uma discussão, já que mostra que mulheres em cargos altos também estão sujeitas a esse tipo de violência. Ele demonstra ainda como o assediador usa de manipulação para que elas não se comuniquem sobre o que está acontecendo e se tornem rivais de outras vítimas, o que enfraquece as denúncias. Apenas quando as mulheres se uniram é que uma providência foi tomada.
Não Mexa com Ela
A segunda indicação é “Não Mexa com Ela”, um drama israelense que retrata a vida de uma família que está começando um empreendimento em um restaurante, ao mesmo tempo que a esposa recebe uma boa proposta de emprego e fica responsável pelo sustento da família enquanto o restaurante não prospera.
Enquanto “Bombshell” mostra o assédio em altos cargos, “Não Mexa com Ela” mostra como a necessidade de manutenção do emprego é utilizada para que a mulher se sinta presa e não denuncie.
Terra Fria
O terceiro filme é “Terra Fria”, que também é uma história real sobre um marco na luta contra o assédio. Josey Aimes foge da casa em que vive com o marido após sofrer violência doméstica, e começa a trabalhar em uma mina de carvão para poder sustentar seus dois filhos. Além de abordar a submissão das mulheres na sociedade e na própria família, a obra mostra o ambiente de trabalho da mina em que os assédios são recorrentes, e que quando as mulheres reclamam recebem a sugestão de se demitir.
Josey então entra com a primeira ação coletiva por assédio sexual nos Estados Unidos, que deu abertura para que outros processos fossem ajuizados e para uma revisão da Lei de Assédio Sexual.
Chega de Fiu Fiu
O documentário “Chega de Fiu Fiu” é um desdobramento da campanha de mesmo nome, realizada pelo Think Olga. O filme fala sobre assédio em espaços públicos, mesclando a narrativa de três mulheres, Raquel, Rosa e Teresa, com depoimentos de convidadas especialistas.
O filme não tem um recorte específico para o ambiente de trabalho, mas traz dados e vivências do Brasil, o que desperta muita identificação. O Instituto Aurora já realizou exibições deste documentário em diferentes espaços, inclusive em empresas.
Nós acreditamos que Estados, sociedade civil e empresas precisam trabalhar juntos para alcançarmos os objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU. Por isso, o Instituto Aurora oferece serviços para empresas, ajudando a construir um ambiente que preze pela igualdade, sem deixar de respeitar as diferenças.
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Algumas referências que usamos neste artigo
Após 15 anos da Lei Maria da Penha, Brasil é o 5° país que mais mata mulheres
Mesmo na pandemia, assédio sexual no trabalho aumenta 13%
Uma em cada seis mulheres vítimas de assédio sexual no trabalho pede demissão
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