O mês do Dia dos Pais nos convida a refletir sobre que tipo de paternidade nós, enquanto sociedade, cultivamos. O audiovisual se mostra como uma alternativa interessante para observarmos possibilidades de masculinidades afetivas, assim como a educação em direitos humanos cumpre papel fundamental para a extinção de estereótipos históricos.
Por Thiago das Mercês Silva, para o Instituto Aurora
Estamos chegando ao final de agosto, mês em que celebramos o Dia dos Pais. Além de todo o significado em torno da data, podemos aproveitar a oportunidade para refletir a respeito da figura paterna, do que ela representa e de como os homens lidam com esse papel.
Historicamente, foi reservado ao homem um papel social que o distancia de tudo o que envolve a afetividade. A preocupação em exercer da melhor forma a função de provedor da família acabou privando a figura masculina da possibilidade de demonstrar vulnerabilidade, por exemplo. Isso graças a uma lógica patriarcal que vem, durante muito tempo, moldando o repertório simbólico dos homens.
E essa falta de diálogo e de abertura acaba se manifestando de forma violenta na direção tanto das mulheres como dos próprios homens. Dados do Mapa da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) dão conta de que homens se suicidam quatro vezes mais que as mulheres; além disso, dez vezes mais homens morrem vítimas da violência no Brasil, segundo números de 2007 do Atlas da Violência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Sendo assim, este texto traz três sugestões de filmes que abordam, de alguma forma, referências de paternidades positivas. Falamos de masculinidades e paternidades no plural pois elas são várias, diversas, não apenas aquela rígida e quadrada que, costumeiramente, é ensinada. Quando conseguirmos, enquanto sociedade, normalizar masculinidades plurais, as relações com e entre homens tendem a se tornar muito mais saudáveis.
E, pensando na reflexão em torno dessas formas de masculinidade possíveis, fica aqui a sugestão de que algum desses filmes (ou todos eles) seja exibido na sua empresa, seguido de um debate sobre o tema.
Publicado em 27/08/2021.
À Procura da Felicidade (2006)
Chris Gardner (Will Smith) se vê diante de graves problemas financeiros. Para deixar a situação ainda mais complexa, ele tem um filho pequeno, de apenas 5 anos, chamado Christopher (Jaden Smith). Sem poder contar com sua esposa Linda (Thandie Newton), que, em meio à crise da família, optou por partir, Chris embarca na missão de criar o seu filho sozinho (responsabilidade que na maioria das vezes cabe à mulher).
Com habilidades para vendas, ele começa a estagiar numa corretora de ações, na esperança de, futuramente, ser efetivado e, assim, poder dar uma vida digna ao seu filho. Contudo, as despesas não esperam e os dois acabam sendo despejados. Com isso, durante as noites, eles passam a buscar refúgio em banheiros públicos, estações de trem e abrigos. E assim, esperando dias melhores, Chris precisa lidar com a pressão de sustentar Christopher, sem permitir que essa situação dramática prejudique a infância de seu filho.
2 Filhos de Francisco (2005)
Lavrador e pai de nove, Francisco Camargo (Ângelo Antônio) sonha em transformar dois de seus filhos numa dupla sertaneja. O filho mais velho é, inicialmente, a primeira aposta de seu Francisco: com 11 anos, ele ganha de presente um acordeão. Nas festinhas da vila onde vivem, Mirosmar (Dablio Moreira) e seu irmão mais novo Emival (Marco Henrique), que toca violão, já fazem sucesso.
Já vivendo em Goiânia, os irmãos começam a tocar na rodoviária para juntar dinheiro e auxiliar nas contas da casa. Lá, conhecem Miranda (José Dumont), o empresário com quem viajarão, depois, por mais de 4 meses. O sucesso de Mirosmar e Emival continua crescendo, mas é interrompido por um acidente de carro que acaba matando o mais novo.
Mirosmar, então, depois de quase desistir, embarca em carreira solo, usando Zezé di Camargo (Márcio Kieling) como nome artístico. Entretanto, seu primeiro álbum não dá certo. Das suas composições gravadas por outros artistas é que ele consegue tirar um pouco do sustento de sua família – a essa altura, ele já está casado, com duas filhas pequenas. O grande ponto de virada de sua carreira é quando Zezé encontra seu irmão Welson (Thiago Mendonça), que, sob o nome artístico de Luciano, o auxilia a encontrar o caminho do sucesso.
A história de Zezé di Camargo e Luciano é um claro exemplo de como um pai pode, ao participar ativamente e ser presente, contribuir positivamente na vida e na história de seus filhos.
Hair Love (2019)
Trata-se de um curta de animação premiado no Oscar 2020. O grande sucesso se deve à bela e bem-humorada mensagem sobre afeto e autoestima. O filme é protagonizado por uma família negra. No dia em questão, a mãe da pequena Zuri está ausente. Cabe, então, ao pai Stephen assumir a responsabilidade de cuidar dos cachos da filha. É um grande desafio, mas é justamente o esforço e a disposição de Stephen para, provavelmente pela primeira vez, pentear os cabelos de Zuri, que cria um momento de intimidade e afeto, em que pai e filha estreitam laços.
O curta-metragem está disponível para assistir no Youtube.
Masculinidades afetivas e ODS 5
Mas momentos como esse, de proximidade entre pais e filhos, só se tornarão cada vez mais comuns quanto mais a sociedade for capaz de romper com determinados papéis de gênero que já duram séculos e que ainda não são suficientemente questionados em todas as instâncias sociais.
Querendo ou não, a pandemia da Covid-19 tem sido uma oportunidade para que alguns pais (os que podem estar em casa) passem mais tempo com seus filhos, participem da rotina deles – tarefa que, no geral, pertence às mães – e assumam mais responsabilidades no contexto familiar.
Contudo, precisamos ir além. Problemas estruturais como esse precisam ser tratados com profundidade, em todas as esferas da nossa sociedade. Lembra que falamos sobre a questão da violência no início deste artigo? Uma das metas do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5 – Igualdade de gênero é “eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas”. Quando se pauta masculinidades sensíveis, afetivas e plurais, os efeitos dessa desconstrução reverberarão positivamente em toda a sociedade.
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