O masculinismo é um movimento que alega defender os direitos dos homens e que surge em resposta às conquistas feministas. Ele propaga discursos de ódio e está ligado a atitudes extremistas, como os ataques às escolas que vivenciamos no Brasil. Neste artigo, exploramos o que é o masculinismo, como ele é diferente do machismo, exemplos de atitudes masculinistas e suas consequências para a sociedade.

Por Natália Rocha, para o Instituto Aurora

(Foto: Will McMaham / Unsplash)

Você sabe o que é o masculinismo?

Com a ascensão da extrema-direita e dos discursos de ódio no Brasil e no mundo, surge também um novo movimento “em defesa dos direitos dos homens”: o masculinismo.

Seus seguidores, em sua maioria, brancos e cis-heterossexuais defendem, dentre outros preceitos, a volta a uma sociedade em que os homens possuíam um “lugar natural” de posse sobre as mulheres.

É importante diferenciar, no entanto, os movimentos masculinistas do machismo estrutural que permeia a nossa sociedade. Neste artigo, abordaremos as suas principais diferenças, exemplos de atitudes masculinistas, suas consequências e a sua ligação com extremismos.

Por fim, destacamos a importância da Educação em Direitos Humanos – e de projetos como o “(Re)Conectar” -, para prevenir extremismos e a propagação de ideias radicalizadas. Afinal, como defende Chimamanda Ngozi Adichie, escritora e feminista nigeriana, a educação é fundamental para desconstruir os papéis de gênero que nos são designados desde muito cedo, e que são difíceis de serem desaprendidos, “mesmo quando vão contra nossos verdadeiros desejos, nossas necessidades e nossa felicidade”.

O que vamos abordar neste artigo:

Publicado em 23/10/2024.

O que é o masculinismo?

Com a crise crescente não só da masculinidade e do papel que o homem moderno desempenha na sociedade, mas também do modelo econômico que vivemos e que aprofunda cada vez mais as desigualdades sociais, surge o masculinismo.

Ele se apresenta como um movimento de resposta às demandas dos homens, e vai de encontro com as conquistas de minorias, principalmente das mulheres, através do feminismo.

Por meio de uma defesa dos direitos dos homens e da visão do que consideram ser uma “masculinidade tradicional”, portanto, seus defensores alegam que são os homens que enfrentam discriminações em vários âmbitos e sentidos, como em questões relacionadas ao divórcio ou a guarda dos filhos, e também na mídia, através de deturpações de sua imagem.

Assim, embora alguns de seus participantes aleguem lutar por uma “equidade de direitos”, em verdade, eles expressam uma grande resistência contra os avanços feministas e as novas visões acerca da masculinidade.

Essa culpabilização das mulheres se dá em relação aos mais variados comportamentos dos homens, como a violência sexual, gravidez e o pagamento de pensão alimentícia, por exemplo, e promove discursos de ódio contra elas, afinal, para eles nelas reside toda a “culpa” de seus problemas. Este discurso entende que é por causa delas que os homens estão insatisfeitos, prejudicados no acesso a direitos e em posições socialmente vistas como “subalternas” em nossa sociedade.

Masculinismo é o mesmo que machismo?

Embora os termos possam parecer (e tenham raízes) semelhantes, masculinismo e machismo não são o mesmo. O machismo é um conjunto de comportamentos, atitudes e ideias que reforçam a falsa premissa de que existe uma superioridade masculina “natural” sobre as mulheres, promovendo uma cultura de dominação e de controle.

Já o masculinismo se apresenta como uma reação às conquistas feministas e, muitas vezes escondido sob o argumento de “defesa dos homens”, acaba por disseminar discursos de ódio e perpetuar as mesmas desigualdades e dinâmicas opressivas que o machismo promove – e que são prejudiciais tanto para as mulheres quanto para os homens.

Ou seja, embora os masculinistas afirmem lutar contra injustiças, muitas de suas reivindicações acabam se alicerçando nas visões tradicionais e ultrapassadas de gênero, reforçando práticas discriminatórias, especialmente contra mulheres.

Exemplos de atitudes masculinistas

As atitudes masculinistas aparecem com mais força na internet, em fóruns ou grupos de redes sociais em que muitos desses discursos são amplificados. Alguns exemplos incluem:

  • Crítica ao feminismo: alegam que as demandas feministas são responsáveis por marginalizar os homens, suprimir os seus direitos e promover a “crise de masculinidade”.
  • Discursos de “vitimização masculina”: sustentam que os homens são discriminados, especialmente em questões que envolvem a guarda dos filhos ou falsas alegações de abusos.
  • Defesa da masculinidade tóxica: promovem comportamentos “tradicionalmente masculinos”, como a repressão de emoções e a violência como prova de virilidade, perpetuando a ideia de que os homens não devem demonstrar fraqueza.

Esses comportamentos reforçam uma cultura machista tóxica, que atrai homens que não se encontram satisfeitos com a sua posição atual na sociedade, e coloca a culpa (erroneamente) nas mulheres e nas conquistas que tiveram ao longo dos anos.

Fora do ambiente virtual, essas atitudes podem levar a consequências mais graves, como:

  • Abusos (físicos, sexuais ou psicológicos);
  • Invasões e ataques violentos, como a invasão ao Capitólio dos Estados Unidos, em 06 de janeiro de 2021, e o ataque a uma escola em Suzano (São Paulo), de 13 de março de 2019.

É claro que invasões e ataques como essas que mencionamos não são causadas apenas por grupos masculinistas, mas a presença deles na invasão ao Capitólio não pode ser ignorada, da mesma forma que um certo “padrão” às invasões as escolas vêm sendo notado: os agressores geralmente acumulam sentimentos mal resolvidos, de frustração social e com uma crise de masculinidade marcante em parte significativa dos casos.

Quais as consequências do masculinismo?

O masculinismo é um movimento que contribui para a perpetuação de atitudes de violência e discriminação, tendo como alvo principal as mulheres, e muitos de seus defensores ignoram ou minimizam questões importantes acerca do assédio sexual, da violência doméstica e da desigualdade salarial, por exemplo.

Mas ao reforçar estereótipos de gênero e promover a ideia de que os homens são vítimas em um cenário de crescente igualdade de gênero, seus adeptos acabam por limitar tanto homens quanto mulheres, uma vez que desviam o foco das injustiças reais que ambos os gêneros continuam a enfrentar.

É um movimento, portanto, que também tem consequências negativas para os homens, porque promove uma visão rígida da masculinidade, e ideias tóxicas do homem como uma figura de poder, da repressão emocional e do controle, o que afeta a saúde mental masculina.

Como o masculinismo está ligado a extremismos?

Grupos que compartilham mensagens de ódio, como os masculinistas, frequentemente se conectam com movimentos de extrema-direita, e é na internet que geralmente essa conexão e recrutamento acontecem. Neste cenário, jovens que se sentem “ameaçados” pelas mudanças sociais e pelas conquistas feministas encontram nesses grupos um canal para expressar as suas insatisfações.

Plataformas como fóruns online e redes sociais se tornam, dessa forma, um terreno fértil para a propagação de ideias, e é nesse momento que o masculinismo pode rapidamente escalar para ideias extremistas, muitas vezes incentivando atos de violência.

O atentado que aconteceu em 2018, em Toronto, no Canadá, é outro exemplo que mostra como o masculinismo pode resultar em violência, e como essa ideologia é responsável por promover misoginia e intolerância, tanto em discursos quanto em ações, já que o autor justificou as suas ações com base nas ideologias masculinistas.

A Educação em Direitos Humanos pode prevenir esses extremismos?

Diante das consequências perigosas do masculinismo, acreditamos que a Educação em Direitos Humanos (EDH) é uma ferramenta essencial para a prevenção e a transformação de pessoas radicalizadas e extremistas. Através dela, é possível incentivarmos uma cultura de paz e de respeito às diferenças, ajudando homens e mulheres a se libertarem e desconstruírem as visões rígidas e tóxicas sobre gênero que possam possuir.

Educar a todos, desde a infância e também nas escolas, sobre igualdade, respeito mútuo e também sobre os nossos direitos fundamentais é muito importante, e projetos como o “(Re)conectar”, do Instituto Aurora, foram pensados justamente para construir uma sociedade em que os jovens aprendam, desde cedo, a conviver com as diferenças.

Quer saber mais sobre o projeto (Re)conectar? Clique aqui.

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Algumas referências que usamos neste artigo:

AMATO, Bruna; FUCHS, Jéssica Janine Bernhardt. Discursos de ódio de gênero e subjetivação: articulações entre masculinismo e extrema direita. Violência e Gênero: análises, perspectivas e desafios, editora científica, v. 1, p. 78 – 92, 2022.

OLIVEIRA, Fabio A. G.; ASSUMPÇÃO, Ana Paula; AMARAL, Fernando Ziderich do. O masculinismo como uma estratégia de invasão: um ensaio crítico. O Social em Questão – Ano XXVI – nº 55, p. 145-176, 2023.

OLIVEIRA, Rosane Cristina de. SILVA, Renato da. Masculinismo e misoginia na sociedade brasileira: uma análise dos discursos dos adeptos ao masculinismo nas redes sociais. Revista Philogus, v. 27 n. 81, p. 1609-1625, 2021.

SILVA, Bruna Camilo de Souza Lima. Masculinismo: misoginia e redes de ódio no contexto da radicalização política no Brasil. (Tese). PUC-Minas, 2023.

SILVA, José Rodolfo Lopes da Silva; FERRARI, Anderson Ferrari; CAETANO, Marcio Rodrigo. Masculinismo, neoconservadores e pedagogias culturais: investimentos em tradições, essencializações e naturalizações. Currículo sem fronteiras, v. 22, 2022.

As novas masculinidades | Carta Capital

Por dentro da ‘machosfera’, onde homens debatem reação ao feminismo e técnicas de sedução | BBC

Pontes ou muros: o que você têm construído?
Em um mundo de desconstrução, sejamos construtores. Essa ideia foi determinante para o surgimento do Instituto Aurora e por isso compartilhamos essa mensagem. Em uma mescla de história de vida e interação com o grupo, são apresentados os princípios da comunicação não-violenta e da possibilidade de sermos empáticos, culminando em um ato simbólico de uma construção coletiva.
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Quem é você na Década da Ação?
Sabemos que precisamos agir no presente para viver em um mundo melhor amanhã. Mas, afinal, o que é esse mundo melhor? É possível construí-lo? Quem fará isso? De forma dinâmica e interativa, os participantes serão instigados a pensar em seu sistema de crenças e a vivenciarem o conceito de justiça social. Cada pessoa poderá reconhecer suas potencialidades e assumir a sua autorresponsabilidade.
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A vitória é de quem?
Nessa palestra permeada pela visão de mundo delas, proporcionamos um espaço para dissipar o medo sobre palavras como: feminismo, empoderamento feminino e igualdade de gênero. Nosso objetivo é mostrar o quanto esses termos estão associados a grandes avanços que tivemos e ainda podemos ter - em um mundo em que todas as pessoas ganhem.
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Liberdade de pensamento: você tem?
As projeções para o século XXI apontam para o exponencial crescimento da inteligência artificial e da sua presença em nosso dia a dia. Você já se perguntou o que as máquinas têm aprendido sobre a humanidade e a vida em sociedade? E como isso volta para nós, impactando a forma como lemos o mundo? É tempo de discutir que tipo de dados têm servido de alimento para os robôs porque isso já tem influenciado o futuro que estamos construindo.
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Formações customizadas
Nossas formações abordam temas relacionados à compreensão de direitos humanos de forma interdisciplinar, aplicada ao dia a dia das pessoas - sejam elas de quaisquer áreas de atuação - e ajustadas às necessidades de quem opta por esse serviço.
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Consultoria em promoção de diversidade
Temos percebido um movimento positivo de criação de comitês de diversidade nas instituições. Com a consultoria, podemos traçar juntos a criação desses espaços de diálogo e definir estratégias de como fortalecer uma cultura de garantia de direitos humanos.
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Minha empresa quer doar

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    Depoimento de professora de Campo Largo
    Em 2022, nosso colégio foi ameaçado de massacre. Funcionárias acharam papel em que estava escrito o dia e a hora que seria o massacre (08/11 às 11h). Também tinha recado na porta interna dos banheiros feminino e masculino. Como gestoras, fizemos o boletim de ocorrência na delegacia e comunicamos o núcleo de educação. A partir desta ação, todos as outras foram coordenadas pela polícia e pelo núcleo. No ambiente escolar gerou um pânico. Alunos começaram a ter diariamente ataque de ansiedade e pânico. Muitos pais já não enviavam os filhos para o colégio. Outros pais da comunidade organizaram grupos paralelos no whatsapp, disseminado mais terror e sugestões de ações que nós deveríamos tomar. Recebemos esporadicamente a ronda da polícia, que adentrava no colégio e fazia uma caminhada e, em seguida, saía. Foram dias de horror. No dia da ameaça, a guarda municipal fez campana no portão de entrada e tivemos apenas 56 alunos durante os turnos da manhã e tarde. Somente um professor não compareceu por motivos psicológicos. Nenhum funcionário faltou. Destacamos que o bilhete foi encontrado no banheiro, na segunda-feira, dia 31 de outubro de 2022, após o segundo turno eleitoral. Com isto, muitos estavam associando o bilhete com caráter político. A polícia descartou essa possibilidade. Enfim, no dia 08, não tivemos nenhuma ocorrência. A semana seguinte foi mais tranquila. E assim seguimos. Contudo, esse é mais um trauma na carreira para ser suportado, sem nenhum olhar de atenção e de cuidado das autoridades. Apenas acrescentamos outras ameaças (as demandas pedagógicas) e outros medos.
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